Mudança de plataforma

Todos os conteúdos deste blog e os respectivos comentários vão ser transferidos para a plataforma da Árvore da Lua que em Junho de 2017 nasceu após o encerramento do Ninho da Serpente.

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TEXTOS PUBLICADOS

Parabéns Ninho da Serpente. Adeus Ninho da Serpente.
A culpa e o ciclo da vítima

A mestria do Fogo por Isabel Maria Angélica – 07.Abril.2016

A VIAGEM À CAVERNA UTERINA por Ximena Avila

O teu sangue menstrual não é lixo! Celebra-o! por Isabel Maria Angélica

 

 

Parabéns Ninho da Serpente. Adeus Ninho da Serpente.

Enquanto lês, abre este vídeo.

 

A 25 de Maio de 2013, perto de Dornes, abri o primeiro círculo de mulheres sob o nome de Ninho da Serpente.

A Serpente surgiu como a energia guardiã destes trabalhos por diversos motivos porque:

  • é uma das energias telúricas que está associada à Mãe Terra, sendo cultuada como manifestação de sabedoria em praticamente todas as culturas;
  • Portugal já foi denominado como Ophiúsa – terra dos adoradores da Serpente;
  • nos ensina e recorda da capacidade de mudarmos de pele à medida que crescemos dentro de nós mesmas;
  • e está reconhecida dentro de nós como a memória antiga da nossa mulher selvagem, intuitiva e sábia.

Quando iniciei os círculos de mulheres, comecei a falar da minha experiência, dos ensinamentos de cuidarmos da nossa ligação à Mãe Terra a partir da vivência de todos os nossos aspectos e elementos e da necessidade absoluta do resgate do nosso amor próprio e poder pessoal, não para sermos melhores que os homens ou exigirmos a igualdade dos direitos, mas sim para que pudéssemos encontrar na nossa memória celular e história de alma o lugar que nos compete numa humanidade que precisa de equilibrar as energias feminina e masculina. Essa será sempre uma das minhas linhas de trabalho pessoal, como professora e como guardiã de círculos de mulheres.

Ao longo destes 4 anos de existência, foram acolhidas centenas de mulheres e, nesta plataforma de trabalho circular, muitas delas encontraram os seus dons e curas pessoais. Assisti a verdadeiros milagres em mulheres que não conseguiam engravidar e conseguiram, graças ao trabalho de círculo e mergulho pessoal, encontrar espaço para receberem as sementes da vida nos seus úteros. Vi mulheres com heranças densas a encontraram o seu Eu de forma a manifestarem a sua essência de forma cada vez mais lúcida e empoderada. Foram acolhidas muitas mulheres perdidas nos seus medos e inseguranças que, nestes 4 anos, se auto-descobriram em amor e lucidez.

Um trabalho que tanto me ensinou e ainda ensina, pois a partir de mim toquei em todas elas e fui tocada de formas que nunca pensei na vida ser tocada por cada uma delas.

Parabéns Ninho da Serpente.

Nesta plataforma do Ninho da Serpente – Círculos de Mulheres pude desenvolver ainda mais os meus dons e curar feridas profundas, o que se deve à energia espiralada com que a Mãe Terra nos nutre e que descobrimos juntas como potenciar e expandir. E sou grata por cada momento.

Como a borboleta, vi tantas, mas tantas mulheres a despedirem-se dos seus casulos e a caminharem de cabeça erguida. Cada uma segue o seu caminho e acolho a gratidão dos corações e úteros que cuidam por todas as aprendizagens e curas. Acolho tudo o que passei pois permitiu-me encontrar dentro de mim a compreensão de que nem todas conseguem entender que os trabalhos e objectivos do Ninho da Serpente não foram e nem são os bodes expiatórios para as suas experiências e histórias pessoais.

Aprendi que, quando as mulheres se unem, grandes curas ocorrem e a níveis que as nossas mentes não abarcam, mas que os corpos e almas reconhecem.

Aprendi que, apesar de tanto conhecimento e trabalho, a matriz da competição, inveja e medo ainda tolda o discernimento das mulheres.

Aprendi que as mulheres unidas são mais fortes, mas que quando a separação é alimentada, a mulher consegue ser a principal inimiga de si mesma e das suas irmãs.

E acolho, agradecendo, todas essas aprendizagens que me permitem hoje, dia 25 de Maio de 2017, dar os Parabéns ao Ninho da Serpente pelos seus 4 anos de existência, mas também dizer-lhe Adeus com a certeza de que um ciclo às 4 direcções sagradas está completo. 

Para que haja crescimento, é necessário deixar morrer e este consciente colectivo que é e foi o Ninho morre hoje, deixando as suas glórias, lições e apegos.

No primeiro ano do Ninho da Serpente, foi a alegria de um novo Fogo manifestado com a direcção Leste. Recordo a euforia, a alegria das mulheres se reunirem. A energia das meninas foi o mote e o florescimento das novas descobertas marcou esse primeiro ciclo. Muitas chegavam ao círculo na alegria de terem encontrado a sua Tribo.

No segundo ano vieram as descobertas das Águas do Sul. Surgiram novas dinâmicas e propostas de trabalho que levaram as mulheres a mergulhos mais internos, o que as levou a descobrirem novas dimensões de si mesmas. Umas foram amadas e acolhidas. Outras foram renegadas. Contudo, a Grande Mãe sempre feliz, pois as Suas filhas estavam a ouvir o seu chamado.

No terceiro ano, era a Terra, na direcção Oeste, a pedir-nos a maturidade e a responsabilidade por cada passo e escolha. Foi o ano em que mais viajei com o Ninho da Serpente a abrir trabalhos onde era chamada e a ser acolhida pelas guardiãs dos respectivos lugares. A maturidade e responsabilidade pedidas foram grandes testes pessoais e colectivos, mas, ao mesmo tempo, esta digressão permitiu chegar a tantas mulheres que aqui sentiram um oxigênio salutar para se nutrirem.

O quarto ano do Ninho da Serpente foi bafejado pelos ventos da direcção Norte, o Ar dos magos e ancestrais que pedem o compromisso sério e inequívoco. Para mim, foi um ano de muitos partos e mortes, algumas delas físicas. Os nascimentos e partidas esse que foram todos celebrados na Montanha, em Abril passado, quando iniciei a minha Busca de Visão com 4 dias e 4 noites em contacto com toda a caminhada pessoal e, acima de tudo, do Ninho da Serpente.

Guardo todo o Caminho do Ninho da Serpente como um tremendo laboratório que agora me deixa o legado de seguir cada vez mais fiel ao chamado que sinto desde os meus 16 anos de estar ao Serviço de uma força maior que é criadora e transformadora de toda a vida e ciclos na Terra, onde eu humanamente me insiro.

Agora, deixo ir esta minha criação e desapego-me de todas as suas sub-criações.

Honro cada aprendizagem, cada mulher, cada abraço e cada promessa.

Honro todos os momentos mas não me apego a nenhum, por saber que cada uma é responsável pelo que diz, pensa, emana e sente.

Honro este meu/nosso Ninho quente e nutridor, onde a vida e a morte andaram lado-a-lado, onde a Serpente nos apresentou a realidade do que carregamos dentro dos nossos corações e úteros tanto no seu esplendor de amor como na penosa dor.

Honro todas as professoras que sempre vi em cada mulher que se sentou comigo em círculo e foi tocada pela Serpente.

E deixo ir, com alguma tristeza, confesso, mas ela é natural no processo da criação e renovação. Deixo ir porque entendo que a energia desta criação teve o seu tempo, trouxe-me o que eu precisava como lições pessoais e de guardiã, mas não me é possível nutrir esta criação dada a história que já carrega.

Contudo, o caminho não pára. Parar é sinónimo de desistência perante o fluxo contínuo da vida. Nunca fui mulher de desistir, apesar dos embates, mal entendidos e dores, pois é a Grande Mãe que continua a sussurrar-me ao ouvido e a trazer-me a imagem de que sou uma Árvore que não pode desistir de o ser, pois a árvore será sempre uma árvore, cumprindo os seus ciclos e crescimento para dentro da Terra, alimentando o Fogo no seu tronco, a beber a Água que lhe traz a seiva vermelha de sangue e a tocar os Ar dos Céus nas suas folhas e troncos.

E no fundo, TODAS somos uma Árvore. Que saibamos então honrar o que isso nos pede como compromisso interno de manifestação das nossas almas. Sejamos cozinheiras ou médicas, advogadas ou varredoras de rua, a cada uma de nós foi-nos atribuída uma energia de árvore com coração e útero. Somos mulheres. Somos cíclicas.

Hoje, dia 25 de Maio de 2017, com a Lua Nova em Gémeos, deixo ir esta minha criação do Ninho da Serpente, o que não deixa de ser curioso, pois a minha Lua natal está em Gémeos, na casa 11, bem juntinha a Saturno. Explico o meu sentir – a minha Lua veio para o serviço, comunicação e ser canal de ligação dos mundos, mas o Saturno junta a ela sempre teve uma tendência castradora, limitadora, punidora… mas de há alguns anos para cá assumi que não queria um Saturno castrador, mas sim um professor. E agora escuto este professor, mestre dos ciclos do tempo, a dizer-me que é tempo de outra coisa…

Esperem novidades com a próxima Lua Cheia em Sagitário, pois a vida e a criação não cessam até porque os trabalhos da Mulher Xamânica online vão continuar, bem como do Fio Vermelho e a Celebração da Roda do Ano.

A partir de Setembro, depois do meu primeiro Retiro da Lua, irei fluir com as inspirações da Grande Mãe, pois é a Ela que devo, acima de tudo, responder e escutar a partir do meu centro oracular interno.

A página do Facebook do Ninho da Serpente será rebaptizada a partir de um novo nascimento e um novo site irá nascer a partir da nova fase interna – minha e da minha árvore.

Adeus Ninho da Serpente.

Estás liberto… Agora podes ser a água que irá alimentar a transmutadora terra da próxima árvore que nasceu graças a ti. Das cinzas da tua partida nascerá uma nova força.

Em gratidão e honrando os ciclos da vida.

Isabel Maria Angélica

25 de Maio de 2017

www.ninhodaserpente.net

www.facebook.com/ninhodaserpente

Vídeo com imagens do acervo do Ninho da Serpente – Círculos de Mulheres de Isabel Maria Angélica

Música UMA de Layne Redmond

A culpa e o ciclo da vítima por Isabel Maria Angélica – 16.Maio.2017

“Não há culpas, nem desculpas. As coisas são o que são”

– Gabriela de Morais

Culpa

A culpa, a par do medo, poderá ser uma das armas de controlo emocional que existe nas relações humanas. Frase arrojada para iniciar este texto, mas que surge numa pesquisa diária do funcionamento das relações afectivas entre os seres humanos e, principalmente, na observação das relações das mulheres em círculo.

O sentimento de culpa, segundo o psicólogo Sigmund Freud (matéria que trabalhou de forma exaustiva ao longo da sua vida), exerce um papel crítico como um obstáculo à felicidade. Contudo, a culpa não é algo que surge espontaneamente na nossa psique, pois nós somos educados para desenvolver a culpa desde que somos pequenos e, para as mulheres, é algo ainda mais inculcado na nossa matriz emocional dado que nascemos já com essa informação que nos é passada de geração em geração e que é um dos instrumentos mais sub-conscientes que nos é transmitido desde a mensagem de que a mulher é a culpada da expulsão do ser humano do Paraíso.

O pecado original diz-nos que foi a mulher, na história do triângulo Adão-Eva-Lilith, a grande culpada da expulsão do Paraíso e desde então, em textos e filosofias judaico-cristãs, é reforçado esse argumento acusatório à mulher e a toda a sua conduta. A mulher, como geradora da vida, é então a grande perpetradora desse peso e castração que ela alimenta em si e transmite na educação que dá aos seus filhos.

Então, será seguro dizer que o sentimento de culpa é uma criação da filosofia patriarcal que, castrando a mulher e alimentando a sua culpa, nos diz que estamos condenadas a viver em dor, sofrimento e separação pois ou assumimos a culpa por tudo o que somos e fazemos ou culpamos quem nos “desvia” dos nossos objectivos internos.

A culpa é assim estabelecida internamente como uma incapacidade ou como um bode expiatório e que nos devia da responsabilidade por tudo o que somos, dizemos, fazemos e pensamos. Culpa e responsabilidade são aspectos completamente distintos, pois a primeira é um jugo e a segunda uma premissa de aprendizagem.

Culpa vs responsabilidade

Com muita frequência oiço mulheres, em ambiente de terapia ou no contexto de círculo, a falarem da culpa que sentem que carregam ou a culparem terceiros pela infelicidade de não conseguirem alcançar os seus objectivos ou desejos. A culpa é da mãe ou do pai pelos seus desaires… a culpa é do companheiro ou companheira pois sentem-se castradas… a culpa é das chefias pois abusam da sua boa vontade… a culpa é dos professores pois são demasiado autoritários… entre tantos exemplos.

Quando são apresentadas à realidade da responsabilidade que podem ter quanto ao facto de atraírem as relações ou situações para daí retirarem lições de crescimento e evolução, a maioria das mulheres treme e nem sempre sabem como processar essa informação. Se por um lado, é aliviado o sentimento de culpa, por outro surge, na maioria dos casos, o vazio por não saberem como lidar a partir do centro de si mesmas.

Por isso, gosto muito de usar a frase de Gabriela de Morais que nos diz que “Não há culpa, nem desculpa”, pois as coisas são como são. Frase que nos devolve a responsabilidade de olhar, sentir e aprofundar todas as experiências e vivências a partir do Eu – o que estou eu a emanar, sentir, pensar ou a dizer para atrair esta situação?

Os bodes expiatórios

Dada a incapacidade de estabelecermos relações de responsabilidade, somos exímias em atrair relações de culpa. Algo que a nossa vítima interna adora, uma vez que assim consegue encontrar os bodes expiatórios necessários para justificar a nossa inacção e frustração perante as lições da vida.

Se estamos em relações abusivas, complicadas, onde não salvaguardamos o nosso amor próprio, passamos a culpar essa pessoa ou pessoas das infelicidades que habitam dentro do nosso coração e que alimentam o vazio da incapacidade pessoal.

Culpar aquele que nos traz a oportunidade de crescermos (isto na visão da responsabilidade) é, assim, dar autorização para que a matriz patriarcal que nos move em caminhos insondáveis continue a reger as nossas vidas e damos autorização para o auto-boicote constante no que diz respeito ao nosso bem-estar, leveza e discernimento.

A herança materna

Somos educadas assim pelas nossas mães que, por sua vez, foram educadas assim pelas suas mães e assim sucessivamente. Mulheres que atraíram os relacionamentos abusivos e castradores, tal como nós. Não paramos para pensar onde tudo poderá ter começado e de que forma poderemos interromper este ciclo vicioso. Antes pelo contrário – funcionamentos em piloto automático.

Está comprovado pelos estudiosos da psique humana que absorvemos nos primeiros 7 anos de vida todos os mecanismos de culpa, medo, insegurança e negociação emocional. Sendo a família, nomeadamente a nuclear (pais, irmãos e até avós), o contexto onde nos desenvolvemos emocional, social e psicologicamente, é nela que vamos absorver tudo aquilo que iremos manifestar dos 7 anos em diante, nomeadamente na vida adulta, fase em que começamos a constelar nas nossas relações aquilo que aprendemos na primeira infância.

Se a nossa mãe é uma mulher dada a depressões, ou ataques de raiva, ou passividade, ou é abusada em algum nível do seu eu, as mulheres principalmente têm tendência de receber todas essas informações como as “normais”. E, “normalmente”, passaremos a manifestar essas informações na normalidade das nossas relações amorosas, de amizades e laborais.

O karma como bode expiatório

Numa era como esta que estamos a viver, a filosofia new age apregoa incessantemente a existência do karma. E muitas mulheres apresentam o karma como bode expiatório para justificarem as relações desequilibradas que têm na sua vida, nomeadamente as amorosas. “Se estou com o meu marido que abusa de mim psicologicamente é o meu karma e preciso viver isto para aprender” – esta é possivelmente a frase mais comum que as mulheres partilham quando falam das suas relações.

Contudo, o karma, tal como em tudo na vida neste Planeta de escolhas, não é taxativo nem determinista. Estamos SEMPRE a tempo de entender as aprendizagens (ou o karma) a partir da culpa da nossa vítima ou a partir da responsabilidade do nosso amor-próprio.

É evidente que cada caso é um caso, mas não me estou a cingir à excepções, mas sim à regra. E na regra é normalmente escolhida a resignação em detrimento da aprendizagem.

A culpa e as relações

Todas as relações que estabelecemos na nossa vida são a partir daquilo que carregamos como seres únicos que somos. Se uma mulher tem um pai é um homem imaturo, irá atrair relacionamento imaturos. Se a mãe sente culpa por ter nascido, a mulher irá de alguma forma manifestar relações que a sobrecarreguem nessa culpa que herdou. Estes são alguns exemplos que podem ser de dispositivos accionadores nas relações pessoais.

Nas amizades funciona exactamente da mesma forma, bem como nas relações profissionais.

Qual é então o ponto comum em todas as relações que estabelecemos – nós mesmas! E a partir de nós iremos ter a oportunidade de decidir se somos as vítimas ou não.

A responsabilidade e a culpa dos outros

O essencial será sempre questionarmo-nos do “para quê?”. Para quê atrais aquela amizade, aquele companheiro ou aquele professor. O que está a tua energia a pedir como aprendizagem e como a desejas usar para teu crescimento interior. O que queres fazer com essa situação a partir da resposta que recebes dentro do teu coração? É a tua ferida a falar ou é o teu discernimento?

É importante definir quais os teus objectivos pessoais, o que te move e o que atrais em função disso como catalisador de mudança interna.

Contudo, na energia actual não podes mais continuar a usar a culpa como arma de arremesso para perpetuar as tuas heranças ou saíres a culpar o outro como bode expiatório para as tuas incompetências emocionais ou desilusões. Tu és responsável por tudo o que dizes, fazes, emanas e pensas e as relações e o colectivo que atrais manifesta tudo o que és. É duro encarar este facto, mas ao mesmo libertador pois serás a única responsável pela resolução do que está dentro de ti.

Eu e os outros

Antes de ser professora e guardiã de círculos de mulheres, sou mulher e humana. Carrego também milhares de anos de história pessoal e colectiva, e, também eu, fui educada num determinado contexto familiar. Este último não foi bonito, amoroso e pacífico. Foi conturbado e, na visão da minha menina sensível e sonhadora, foi bem duro. Durante algum tempo sentia culpa e culpava. A tentação de utilizar as situações e pessoas como bode expiatórios é grande até que recentemente fui confrontada com a pergunta que fiz a mim mesma – para quê sentir culpa pelas incapacidades dos outros e para quê culpar-me a mim ou aos outros pelas minhas incapacidades?

Obviamente que o que me foi dado a ver sobre mim mesma não foi agradável. Os enleios emocionais e energéticos eram muitos e pude ver claramente os meus mecanismos de acção e fuga. Contudo, foi essa clareza que me trouxe o foco de dor que preciso ainda de nutrir e cuidar dentro de mim e que está associado aos meus primeiros minutos de vida nesta vida. Uma ferida de abandono, separação e ansiedade que depois foi determinando todos os meus relacionamentos, formas de agir, pensar… não foi um processo agradável, mas foi, sem sombra de dúvida, libertador. Pois por detrás de um enorme trauma que o meu corpo ainda manifesta na forma de asma, veio também um conjunto de ferramentas para uso pessoal de crescimento e até alquimia.

A culpa não existe, foi o que mais escutei durante esse processo. A culpa não existe. Existe sim a responsabilidade e eu, tu e todas nós somos senhoras da nossa responsabilidade. Bem como da forma como a queremos usar na vida de forma a nos trazer a doçura aos corações.

Caminhando.

Um abraço de coração:útero
Isabel Maria Angélica

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NOTA – este tema pode e deve ser trabalhado em ambiente de terapia ou em cursos e podes contactar pelo email – terrasdelyz@gmail.com

Este texto pode e deve ser divulgado desde que respeitada a sua fonte:
Isabel Maria Angélica | 17 de Março de 2017 | Terras de Lyz | www.terrasdelyz.net | Ninho da Serpente | www.ninhodaserpente.net
Imagem: encontrada na Internet

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A mãe biológica e as figuras maternas (ou como a mulher precisa regressar ao útero) por Isabel Maria Angélica – 16.Mar.2017

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Trabalhar com o feminino (porque sou mulher, porque nasci de uma mulher e porque assumo a responsabilidade de me sentar em círculo com mulher) é um verdadeiro trabalho de arqueologia. Somos o templo onde as escavações arqueológicas acontecem em tempo real e sem pausas. Por vezes, é um trabalho excitante e cheio de novas descobertas, e outra vezes é um trabalho extenuante, cansativo e desanimador. Umas vezes avançamos e damos passos de gigante e outras vezes parece que somos cobaias de um jogo que parece que não termina mais, com visitas e re-visitas a temas que nos pareciam já resolvidos.

Somos apresentadas à nossa vítima, à nossa manipuladora, às nossas dores e ao arrastamento das mesmas, pois elas transformam-se em sofrimentos. Atraímos relações, parcerias, amizades, inimizades e esperanças que, na realidade, são meros espelhos para a observação constante e em consciência, ainda mais quando se trabalha em responsabilidade.

Contudo, invariavelmente, todas estas descobertas na arqueologia que fazemos de nós mesmas nada mais nada menos são a oportunidade inquestionável de nos podermos aprofundar de forma lúcida, embora às vezes de maneira emocional ou outras vezes em observação. E, no fim, tudo se resume à forma como fomos introduzidas ao que é isto de sermos mulheres a partir da nossa primeira fonte – a mãe biológica.

A nossa mãe é a nossa primeira grande professora, directora, instrutora e guia. Na forma como ela aprendeu com a sua própria mãe, assim ela fará connosco e nós assim faremos com as nossas filhas (e também filhos, mas para já ficaremos na linhagem feminina por uma questão de organização e foco.

A mãe biológica é a nossa primeira casa. Chegamos em forma de alma para um corpo físico porque essa mulher se dispôs a receber uma vida no seu útero. Aí, ela deu autorização para que uma semente entrasse e fecundasse um óvulo que depois se transforma no nosso corpo. Uma mulher, também ela, que se transforma em mãe. A experiência da maternidade irá trazer-lhe, sem dúvida, novas visões e iniciações que depois ela irá passar, da melhor forma que sabe, à filha que recebe dentro e fora de si. No entanto, também ela nos passa aquilo que ela recebe como herança a partir da linhagem da mãe que pariu a mãe que pariu a mãe. Um Fio Vermelho ao qual não lhe conhecemos princípio. Não precisamos ir muito longe para compreender a herança física, emocional e social que elas herdam e que, à sua forma de amar, nos transmitem.

Aos olhos da sociedade, é esperado que o papel da mãe seja íntegro, inteiro, consciente e, até, perfeito! Sim, é pedido à mãe que ela seja perfeita! Embora sabendo que a perfeição não existe num mundo de dualidade e experiências como é este onde habitamos, é pedido à mãe que ela cumpra uma função que, quase obrigatoriamente, deverá ser a mesma daquela percepção que a Humanidade carrega no seu consciente do que é ser mãe, pois somos acolhidos por imagens maternais perfeitas como a Mãe Maria ou outros símbolos espirituais e maternais.

A mãe biológica é o centro gravitacional a partir do qual tudo gira. É nossa primeira fonte de sustento, amor, segurança, mas também se torna uma fonte de projecções e expectativas. Nela desejamos beber tudo aquilo que, na nossa personalidade e herança, achamos que precisamos para matar a nossa sede. Assumimos que ela deverá ser uma fonte inesgotável de perfeição… Algo nos é passado que assim nos condiciona. E começa desde o útero, pois ela, ao visitar médicos, especialistas e ouvir este e aquele comentário, condiciona a informação que recebe a partir dos seus próprios medos e inseguranças, desejos e anseios.

Efectivamente bebemos dela sim, pois o cordão umbilical, as águas onde navegamos dentro da sua barriga, transferem-nos esses ensinamentos subtis que passam a incorporar na nossa matriz celular e emocional, as nossas águas. Mas a mãe não deixa de ser mulher. Muitas mães, quando grávidas, sentem medos vários, desejam não estar grávidas, têm medo do parto, medo de não conseguir amamentar, entram em depressão, mas ninguém lhes diz que tudo isso é normal… Antes pelo contrário, a maioria das vozes dá-lhe o eco de que é o momento mais feliz das suas vidas e aqui começa a nutrição a uma tremenda culpa, pois as informações internas falam noutra coisa. Querem ser perfeitas, mas o que sentem toca na imperfeição.

Mas a perfeição não existe. A nossa mãe não é perfeita. É uma mulher cheia de heranças e também ela própria com uma arqueologia por fazer.

É a partir da nossa mãe biológica que recebemos as bases da segurança, nutrição, vitalidade e abundância. É ela que nos dita o que deve ser feito e como. À sua maneira, instrui-nos da sua sabedoria. E é aqui, desde o útero e durante a primeira infância, que estabelecemos o enquadramento daquela que será a nossa formação emocional, social e racional. É através dela que recebemos os limites, a autoridade, os medos, o respeito… Sejam eles ajustados àquelas que consideramos ser as nossas necessidades pessoais ou não. Passamos a ser um reflexo do que ela é e significa para nós, seja por absorção total do que ela nos passa ou seja por negação e zanga total com ela.

O que aprendemos com a nossa mãe irá ditar a forma como iremos atrair e interagir nos nossos relacionamentos à posteriori, sejam mulheres ou homens. E, normalmente, esta é a herança que nos leva à busca fora de nós daquilo que sentimos que nos faz falta… Se tivemos uma mãe ausente emocionalmente, vamos à procura de figuras maternas que ocupem esse lugar. Se a mãe foi abusada ou traída, vamos perpetuar esse conceito. Se a mãe é insegura e sem amor-próprio, tomamos isso para nós. Se a mãe é autoritária e a que “usa as calças”, torna-se um exemplo. Se a mãe é depressiva e age como vítima, ficamos com uma bengala disponível a usar…

São opções que nos são colocadas e, como foi dito acima, podemos manifestar por total absorção ou por desprezo. Seja como for, não está previsto o equilíbrio, pois não sabemos o que isso é.

A MÃE-DRASTA

Uma das maiores feridas entre mãe e filha é a de uma mãe zangada, castradora que exerce o seu poder autoritário desmedido. Por motivos e espelhos pessoais, ela vê na filha a competição – a mais bela, a mais jovem, a que retira a atenção do marido, a que tem mais sucesso… Contudo, na dinâmica com a filha, há sempre uma cobrança de que “poderias ser melhor” ou “poderias fazer melhor”. Seja o que for que a filha faça, nunca é suficiente. As meninas crescem a mulheres com este sentimento de insuficiência, de escassez que depois incutem como forma de vida e atraem a si relações que lhe recordam sempre dessa ferida de falta de amor, de falta de merecimento.

Por outro lado, a mãe, tal como qualquer mulher, sabe que é assistida por um poder imensurável, vindo das profundezas do seu corpo e ser. É um poder que ela não reconhece (e muito menos quer assumir), nem lhe é reconhecido pelos que a rodeiam. O poder de ser iniciadora de vida ou morte. Um poder que a faz conectar-se com algo muito ancestral e visceral, mas que lhe disseram que era onde iria ficar louca. Ela não foi iniciada nesse poder.

A mãe pode viver separada desse poder, mas ele está lá, respira com ela, partilha espaço com ela mas não é vivido por ela, pois ela não foi ensinada ou iniciada a isso. E no meio das noites mal dormidas, de uma depressão silenciosa, de um marido ausente, de falta de rede de apoio, de falta de estrutura emocional de base, ela vai sendo tocada de vez em quando por esse poder, mas o seu corpo e psique não sabem mediá-lo com equilíbrio. Nesse momento, ou ela se transforma numa mulher enraivecida e agressiva ou assume a postura da passiva e sem autoridade na sua vida.

O poder não assumido, não trabalhado, não encontra forma de se manifestar mas continua ali ao lado dela. Com ela. E na sua incapacidade, ele transforma-se em energia de controlo, ou poder desvirtuado, accionando a dinâmica de vítima e carrasco. Ela passa então a exercer o seu poder desvirtuado sob forma de manipulação.

Mas afinal, o que a levou até aí? Como é que isso chegou até nós? Como somos nós isso?

A MÃE QUE SE ANULA

Há ainda as mulheres que beberam de uma mãe que se anula em todas as suas vontades e desejos para manterem a família unida, sem conflitos e sem cisões. Uma mulher em silêncio que acena a todos e a tudo a bem de uma falsa paz e harmonia. A mãe que é permissiva e que não impõe limites dentro e fora de si. Aqui é a vivência da anulação do tal poder que vimos acima, pois ela sabe que se esse poder for manifestado irá perceber que a vida que vive não se encaixa naquela que ela é.

Contudo, passando a herança da permissividade e vazio emocional, a mãe ensina à sua filha que o silêncio é de ouro e que a verdade mata. Que a bem da paz podre, a mulher deve viver no silêncio das suas emoções, desejos e aspectos ocultos. Uma forma de viver na vitimização, mas aqui mais aceite pelo meio social onde se insere, pois passa a imagem quase perfeita do que se espera da mãe.

Mas os danos emocionais à filha são profundos que a levam a atrair relacionamentos violentos e com agressões emocionais, energéticas e psíquicas constantes.

A partir dos insucessos das nossas mães alimentamos os nossos. Até poderemos ter mais consciência, mais caminho de auto-conhecimento realizado, contudo, se não forem reconhecidos esses gatilhos dentro de nós, eles irão accionar-se nas reacções que temos nos nossos círculos pessoais ou profissionais de relacionamentos.

AS FIGURAS MATERNAS

Com as heranças que recebemos das nossas mães, vamos para o mundo dos relacionamentos e começamos a receber o retorno de tudo aquilo que carregamos da nossa personalidade amplificado pelas transmissões silenciosas ou ruidosas das nossas mães. Normalmente não nos questionamos porque atraímos esta pessoa ou aquela situação. Interiormente fazemos a matemática e sabemos identificar onde é que aquilo toca na nossa história pessoal, mas escolhemos, na maioria das vezes, em olhar para tudo isso de forma impessoal e sacudir da água da nossa responsabilidade e lançar uma verbalização como “Se estou a passar por isto, a culpa é da minha mãe…”

Escolhemos companheiros e companheiras de caminho que, obrigatoriamente, vão representar aspectos e nuances que vimos nas nossas mães. Podemos procurar o conforto dessa figura materna porque nos faltou uma na infância e, para tal, poderemos escolher homens ou mulheres que possam desempenhar esse papel. Atraímos as figuras maternais autoritárias ou submissas, que controlam ou não impõem limites, que nos vão tocar naqueles gatilhos emocionais desarranjados que carregamos.

Dado que não existe o trabalho de consciência base que nos ajude à cura interna da ferida com a nossa mãe, com o nosso Fio Vermelho, vamos agir e reagir com essas figuras maternas da mesma forma como agimos e reagimos com a nossa mãe… Num ápice, aquela pessoa bestial passa a besta, pois não correspondeu à expectativa que ela deveria ser perfeita, dado que a nossa mãe não o foi… Mas a perfeição não existe, lembrem-se disso. E à mãe (ou as figuras maternas que colocamos no seu lugar) não lhe compete ser perfeita. À mãe compete-lhe ser mãe (talvez um papel de educadora, professora, nutridora e directora) e os outros não têm a obrigação de ocuparem papéis de figuras maternas nas nossas vidas, mas são sim outros seres humanos que igualmente caminham como todos na Terra com as suas próprias mães por resolverem.

Na prática, podemos resumir que se tivemos uma mãe manipuladora, passaremos a atrair figuras maternas manipuladoras ou nós próprias passamos a ser as manipuladoras ou ainda manipuladas. Se tivemos uma mãe que representou sempre tão bem o papel da vítima-carrasco, já percebemos o que iremos manifestar ou atrair. O mesmo se passa, por exemplo, se tivemos uma mãe depressiva ou anulada, passaremos anos a atrair essas energias em relações ou viveremos no terror de termos uma depressão ou de sermos anuladas.

AFINAL QUAL O FOCO (OU POSSIBILIDADE DE…)

A mãe biológica (a mãe em nós e as “mães” que elegemos) apenas precisa de uma coisa – ser olhada com olhos de ver, a partir do coração, e ouvir “Eu reconheço-te e sou grata por tudo o que fizeste para eu estar aqui. Sou-te grata por teres recebido a semente do meu pai dentro de ti. Sou grata por teres autorizado o teu corpo a gerar-me. Eu, como mulher e tua filha, reconheço os teus medos, inseguranças, traumas, dores e aflições. Sou grata por todas as noites que passaste em claro, pela educação que me deste. Sou grata por ser tua filha, mas eu não sou tu. Sou eu. Por te agradecer e reconhecer, posso agora despedir-me dos imensos papéis que assumi porque queria colmatar a tua dor ou não ser como tu. Eu sei que não sou tu. Sou eu…”.

E aqui sim, podemos criar uma oportunidade de sairmos da nossa menina arrogante, expectante e romântica para sermos a mulher que somos. Não é um caminho de negação, mas sim de acolhimento e integração.

No caminho da mulher humana que caminha com um espírito na Terra é essencial fazermos as pazes com este nosso pilar emocional e de vida! Reconhecer que a nossa mãe teve a coragem de ter filhos em condições precárias internas e/ou externas. Com todas as dificuldades com que se deparou, ela não desistiu. Reconhecer a mãe como mulher que caminha há mais tempo e que a enquadra na sua sabedoria e história de vida.

A partir daqui é-nos possível reconhecer TODAS as mães que existem em TODAS as mulheres que nos rodeiam. Mesmo que essas mulheres não tenham parido filhos, elas são geradoras de vida à sua maneira. Todas as mulheres são iniciadoras de vida e caminham na Terra com a sabedoria maior que lhes é possível. Não precisamos concordar, aprovar, avaliar… Apenas reconhecer o papel que cada uma desempenha para podermos aprender por nós mesmas.

Limparmos a história com a nossa mãe permite-nos limparmos uma série de mal-entendidos, leituras pessoais a partir da nossa ferida pessoal e conceitos que vamos acumulando ao longo das nossas vidas. E isso irá facilitar e arejar as relações reais e verdadeiras que queremos ter no nosso caminho.

Esta cura, esta aceitação em amor, ajuda-nos a clarificar os relacionamentos, pois as projecções que carregamos pela história mal resolvida com as nossas mães são as mesmas que utilizamos, consciente ou inconscientemente, para as nossas relações pessoais e sociais. “Obrigamos” alguém a ocupar o lugar da nossa mãezinha contra a qual carregamos toneladas de ressentimentos e dor… Ou seja, as relações podem estar contaminadas logo à partida.

A mãe é aquela que nos leva às nossas águas. É o cântaro da vida a partir do qual tudo se manifesta. E as mulheres, todas elas, carregam esta matriz, sejam elas parideiras de seres ou não. Honraremos o Feminino Sagrado em nós quando nos permitirmos a carregar a nossa mãe biológica nosso CORAÇÃO… aí, onde as águas se encontram.

DO CÍRCULO INTERNO PARA O CÍRCULO EXTERNO

De forma orgânica e natural, o ambiente de segurança para as mulheres deveria ser o estar com outras mulheres, caso a relação entre mãe e filha fosse saudável. É-o assim desde os tempos primordiais das tribos e colectivos, mas que, por razões históricas e energéticas, deixou de o ser. Contudo, há algo guardado dentro de nós que nos segreda que temos sido mães, irmãs, amigas e companheiras umas das outras desde sempre e talvez por isso exista a secreta vontade de pedirmos à nossa mãe biológica esse “círculo perfeito” de união e respeito. Mas não é assim.

As relações entre mãe e filha, entre as mulheres, estão carregadas de sofrimento, expectativas, endeusamentos versus bestialidade, desconfiança, medo… Tudo o que se manifesta na relação mãe-filha é aquilo que carregamos como mulheres – o peso da crítica, da insuficiência, da competição, ciúmes, maledicência. Sim, tudo começa na relação com a nossa mãe pois através dela recebemos o primeiro olhar de como deverá ser a relação entre as mulheres.

O grande compromisso actual das mulheres nos tempos actuais é ajudarem-se umas às outras. Daí o chamado aos círculos de mulheres como nos fala Jean Shinoda Bolen, Clarissa Pinkola Estés, Vicky Noble e tantas outras pensadoras e dinamizadoras do Feminino. De facto, esse chamado está a ser respondido, contudo as mulheres carregam para os círculos as mesmas expectativas e pré-conceitos que carregam em relação às suas mães. Por isso, na maioria das vezes, os círculos diluem-se derivado a conflitos ou então convertem-se num espaço de troca de receitas de culinária. A ferida com a mãe é o ensinamento primordial que recebemos que depois se irá manifestar em outras feridas como amantes, amigas, irmãs, profissionais, etc.

A profundidade exigida na intimidade é algo crucial que precisamos nos obrigar (sim, obrigar!) a construir de forma lúcida e madura. Não o tivemos com a nossa mãe, sim é um facto, mas não é ela que se senta em círculo, somos nós! E a nós também nos compete o papel de educadoras, professoras, nutridoras e directoras. O compromisso à partilha limpa e à recepção limpa das outras partilhas é uma pedra base e que começa, acima de tudo e primeiro que tudo, na partilha e recepção limpa de nós mesmas. Com tudo o que carregamos dentro de nós. Se temos medo de ser julgadas é porque somos as maiores julgadoras de nós mesmas… Se temos medo de sermos manipuladas é porque as nossas maiores manipuladoras. Se temos medo de não ser amadas é porque ainda não nos amamos. E por aí fora.

Continuamos a oprimir as nossas mães, as mães dentro de nós e umas às outras, continuamos nos julgamentos, expectativas e pré-conceitos. A real isenção acontecerá quando nos valorizarmos e valorizarmos as outras mulheres, sem competições e sem rótulos. A outra mulher é uma mulher porque é mulher! Seja ela a nossa mãe, nossa irmã, conhecida ou aquela que passa ao nosso lado na rua. É apenas e tanto uma mulher.

Este poderá ser um trabalho que acontece em paralelo com o trabalho pessoal e individual em nós mesmas e com a nossa mãe. Pois o que somos no interior toca no exterior e vice-versa. Quando cada mulher se abraçar em amor pleno, aí sim entra no real caminho da isenção com as demais mulheres a começar pela sua mãe, avó e toda a sua linhagem de Fio Vermelho que carrega no seu útero e coração.

O foco para a segurança interna implica despir muitas peles e a primeira pele que recebemos foi aquela que a nossa mãe disponibilizou para que fosse confeccionada dentro do seu útero. Aí, nesse lugar húmido, escuro e de vida, somos todas iguais, reais, viscerais, meninas, mulheres, humanas e cheias de dores e dons. Claro que leva tempo e tem o seu tempo, mas em cada passo do caminho será fundamental não ficar a choramingar pelo que poderia ter sido, mas sim agir em consciência no Aqui e Agora com o que temos à disposição. As desculpas são úteis, mas já dizia Gabriela de Morais no seu livro “A Senhora de Ofiúsa” – não há culpas, nem desculpas; as coisas são o que são…

Caminhando.

Um abraço de coração:útero

Isabel Maria Angélica
http://www.terrasdelyz.net | www.ninhodaserpente.net

Sou grata ao meu caminhar e às suas lições e outras professoras (e cito Andrea Herrera, Joelma Duarte e Bethany Webster, entre outras) que vão passando na minha vida e me ajudam a ver as mesmas coisas a partir de tantas perspectivas até podermos chegar ao essencial.

NOTA – este tema pode e deve ser trabalhado em ambiente de terapia ou em cursos e podes contactar pelo email – terrasdelyz@gmail.com

Este texto pode e deve ser divulgado desde que respeitada a sua fonte:
Isabel Maria Angélica | 16 de Março de 2017 | Terras de Lyz | www.terrasdelyz.net | Ninho da Serpente | www.ninhodaserpente.net

Imagem: esquiço de Isabel Maria Angélica

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A Responsabilidade e o Ciclo da Vítima por Isabel Maria Angélica – 28.Dez.2015
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:: A mãe biológica e as figuras maternas ::

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A nossa mãe é a base da nossa vida, da nossa vitalidade. Nela fomos geradas, foi ela que acolheu dentro do seu útero a semente que nos irá dar a vida e é ela que nos ensina, desde o primeiro momento, qual será a nossa relação com a vitalidade, abundância e matriz relacional ao longo das nossas vidas.
 
Por sua vez, a nossa mãe foi gerada dentro de um outro útero, o da nossa avó, que lhe passou tudo aquilo que ela sabia e conhecia e que assim marca a vivência da nossa mãe.
 
Percebemos assim, que útero após útero, geração após geração, as mulheres da nossa linhagem feminina vão recebendo as “instruções” sociais, emocionais, mentais e até energéticas que depois nos são passadas como uma herança que carregamos dentro dos nossos úteros, corações e mentes.
 
Contudo, esta visão compassiva das nossas mães e das mães das nossas mães não está, na maioria das vezes, activada. Nas centenas de mulheres com quem trabalho, acolho as suas percepções de meninas magoadas pois, na sua concepção pessoal, entendem que não receberam das suas mães aquilo que necessitavam para se sentirem amadas, protegidas e amparadas. Há, na maioria das vezes, um peso que carregam, inconsciente, de que a mãe deveria ter sido perfeita e, qual heroína, deveria ter sido sobre humana. No entanto, a nossa mãe não nasceu para ser perfeita… ela nasceu mulher, humana, cheia de fragilidades, defeitos e qualidades. Ela nasceu para ser educadora. Não nasceu para corresponder às nossas expectativas pessoais, pois ela é um indivíduo diferente de nós, tal como nós, as que somos mães, ou ocupamos um papel de figura maternal, não nascemos para correspondermos à expectativas dos filhos ou homens, mulheres ou crianças que assumimos ao nosso cuidado.
 
É crucial entendermos dentro do nosso ser que a maior ferida que carregamos é com a mãe biológica e que sem sanarmos esta conexão, não conseguiremos sanar a ferida que temos com o nosso pai biológico e com o masculino em geral.
 
As mulheres são as educadoras do mundo mas antes precisamos, em amor e aceitação, aceitar que teremos de nos educar a nós mesmas, sendo as mães de nós próprias, para então abrirmos espaço de entendimento à mãe biológica fora de nós e, então sim, à Grande Mãe.
 
Entendermos a ferida e as projecções que carregamos sobre a nossa mãe biológica irá ajudar-nos, mulheres, a cuidarmos das nossas relações pessoais com os/as companheiros/as, amigos/as, família, meio profissional, etc. Iremos cuidar assim da nossa raiva, tristeza, frustração, depressão, competição, inveja, ciúmes e expectativas.
 
Desenvolverei esta tema posteriormente até porque ele serve, cada vez mais, de base ao trabalho que está a ser desenvolvido no Fio Vermelho (http://www.ninhodaserpente.net/o-fio-vermelho/).
 
Assim é.
 
– Isabel Maria Angélica

Somos todas únicas e singulares… por Isabel Maria Angélica 

Somos todas únicas e singulares… Nenhuma é igual à outra, contudo as histórias que nos unem na nossa essência são bem mais comuns do que imaginamos.

Mas apesar disso ainda negamos o que nos une. Negamos a nossa normalidade e andamos sequiosas à procura de sermos extraordinárias. De tal forma, que competimos umas com as outras pois queremos ser mais extraordinárias que a vizinha… Mas o extraordinário, na realidade, é a arte de sabermos viver o normal… com toda a responsabilidade e maturidade que isso implica…

Não somos nada, não sabemos nada, não somos as salvadoras nem as curadoras… Cingirmos-nos ao vazio de sermos nada é que poderá possibilitar a proposta interna de recebermos tudo. 

Mas o ego precisa morrer e renascer. Os achismos precisam ser desmontados. O que importa é o sentir… sentirmos a nossa essência sagrada e divina com tudo o que isso implica mas mantendo os olhos da neutralidade essencial.

Quem somos não é a mesma coisa daquilo que achamos que somos… Quem somos obriga-nos a muitas mordeduras da serpente, muitas mortes iniciáticas, despedirmos-nos de muitos véus que nos toldam ao conhecimento pleno de nós mesmas…

Quem somos não se compadece com aquilo que a mente reptiliana nos impinge e que está artilhada com tantos mecanismos ancestrais de sobrevivência a todo o custo…

Quem somos precisa mudar de pele como a serpente e humildemente sangrarmos para a Mãe Terra sabendo que ela nos irá engolir e cuspir a qualquer momento. Não somos nada. Não sabemos nada. Só no vazio vislumbramos a nossa verdade.

– Isabel Maria Angélica, 14 de Junho de 2016

A Deusa Negra por Caitlín Matthews

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Vivemos numa era de redescobertas e lembranças, onde o Divino Feminino é recuperado como a Deusa em nossa consciência.

Um de seus maiores profetas foi o poeta Robert Graves cujo livro The White Goddess despertou um mundo adormecido. Apesar de muitos tentarem readaptar seu material, poucos tiveram o mesmo sucesso em provocar respostas no mesmo nível criativo. Graves escreveu de forma lírica e poética sobre a inspiradora Deusa Branca e sua representante sacerdotisa/musa, a Mulher. Ele escreveu como um poeta do sexo masculino, totalmente apaixonado e a serviço de sua exigente amante. Também escreveu, com menos detalhamento, sobre a desafiadora Deusa Negra, aquela que “não é mais do que uma palavra de esperança sussurrada pelos poucos que serviram como aprendizes da Deusa Branca.”

O Divino Feminino pode, sem dúvida, ser compreendido por homens que se sintam atraídos pelas qualidades fascinantes da Deusa Branca no nível do amor e da inspiração. Mas a Deusa da Sabedoria, a Deusa Negra que está no âmago do processo criativo, não é tão facilmente visualizada, como disse o próprio Graves, ela “pode até mesmo surgir etérea ao invés de encarnada.” Por que é assim?

A Deusa Negra é a Sophia velada que, de muitas formas, é a manifestação primal do Divino Feminino. Ela pode ser mais prontamente identificada pelas mulheres porque seus processos e poderes ocultos se assemelham a suas próprias qualidades instintivas. Os homens raramente se aproximam dela, a não ser com medo, pois ela não se manifesta como uma musa sensual e desejável (se bem que por vezes ela assuma essa forma), mas como uma Mãe Obscura, imanente e detentora de poderes desconhecidos e inimagináveis, ou como Virago, uma poderosa virgem.

O temor dos homens pelo feminino tem origem aqui e é por isso que temos tão poucos textos falando das qualidades dela, pois poucos homens permaneceram perto dela tempo o bastante para serem capazes de registrar sua experiência orgânica da Deusa Negra, que é a poderosa base para a compreensão do Divino Feminino, pois é somente quando a homenageamos que podemos encontrar a Deusa da Sabedoria.

Sophia está em ação desde o início, pois é uma deusa criadora. Ela aguarda ser redescoberta no interior da Deusa Negra, sua imagem refletida, ciente de que, até que façamos esse importante reconhecimento, ela terá que retornar vez após vez em diferentes formas. Ela pacientemente aguarda pelo momento de emergir, ciente de que terá de desempenhar diversos papéis no cenário que surgirá.

O Ocidente lentamente começa a desenvolver uma apreciação da Deusa Negra. Nos últimos dois mil anos em que a deusa foi marginalizada, a maior parte das aparições do Divino Feminino foram avaliadas sob uma problemática ótica dualista. Nós não dispomos da válvula de segurança da metáfora feminina em nossa compreensão espiritual: consequentemente, o feminino (tanto humano quanto divino) passou a ser visto monstruosamente distorcido, ameaçador e incontrolável.

O fato de que nossas metáforas de deidades podem mudar ou assumir facetas diferentes está além da compreensão ocidental. A Deusa pode ser vista de diversas formas, um fato que levou muitos filósofos e teólogos a chamar a Deusa de volátil e mutável, como uma prostituta e seus muitos clientes.

O ocidente sempre se espantou com o fato de que o Hinduismo aceitava uma forma tão repulsiva quanto Kali. Porém, se a Deusa Negra é negada, como ocorre em nossa cultura, ela surgirá através de formas que nos levem a respeitá-la no futuro – se houver um futuro. Na sucessão das eras hindus, vivemos hoje a era de Kali Yuga, a era da destruição.

Nós costumamos dar tamanha ênfase ao benéfico e ao belo que criamos um arquétipo falso para o Divino Feminino. A Deusa, para ser aceita em nossa cultura, tem de surgir na forma de candura e luz – uma mistura de Marilyn Monroe e Vênus de Milo – sexy e um tanto obtusa. Tais polarizações são perigosas e repercutem com força no Ocidente. Essa imagem não só cria uma norma pela qual as mulheres são vistas, mas também desequilibrou nossa relação com o resto da criação. A cultura ocidental, como suas manifestações espirituais ortodoxas, é dominadora, ditatorial e patriarcal. Não permite que as liberdades fundamentais do ser humano se desenvolvam de forma equilibrada, distorcendo até mesmo as qualidades da sabedoria, do amor, do conhecimento e da compaixão.

O caminho de Sophia é o caminho da experiência pessoal. Ela nos leva a áreas que podemos chamar de ‘realidade elevada’ – os universos criativos a que os mortais comuns são levados por força de suas habilidades vocacionais e criativas. Contudo, o poético, o mágico e o criativo costumam ser negados por nossa cultura. Qualquer pessoa que tenha mergulhado no mundo da visão – definido por muitos como irreal – sabe que seu poder pode melhorar nossas vidas. É Sophia que atua como guia e companheira desta demanda interior, especialmente válida para as mulheres. Uma vez que a criatividade de Sophia é por nós negada, nós a vemos encoberta pelo manto da Deusa Negra, movendo-se silenciosa e misteriosamente para executar seus trabalhos.

** Imagem da Virgem Negra do altar da Capela de Nossa Senhora da Guadalupe, em Vila Nova do Bispo, Algarve, Portugal

A abundância e a ferida da mãe por Isabel Maria Angélica – 20.Jan.2017

Em termos energéticos, emocionais, físicos e sistémicos, a mãe biológica é aquela que nos dá o primeiro sustento. Por isso, a conexão a ela está ligada ao movimento de ir para a vida, brilharmos, termos prosperidade e conseguirmos a abundância financeira. Tudo o que nós guardamos dentro do nosso corpo, ao nível celular, ou no nosso sistema de crenças, em relação a este tema irá repercutir-se ao longo da nossa vida. Seja por excesso ou por escassez.
Mais especificamente, a abundância material é um GRANDE tema que é comum à maioria das mulheres que recebo nos meus atendimentos ou nos círculos. Não fosse também um tema que eu sempre trabalhei ao longo da minha vida e que no último ano se tornou um facto importantíssimo para trabalhar. Não que esteja em escassez (apesar dos pensamentos recorrentes sobre tal bem nutridos por uma matriz de controlo), mas porque, neste momento, algumas pessoas devem à Escola da qual sou um dos pilares a respectiva troca de abundância por serviços, cursos ou alojamento. Um tema que tenho vindo a trabalhar através de vários estágios que tocaram na minha raiva, indignação, perplexidade, resignação até se tornar, neste momento, numa fortíssima aprendizagem e tomada de consciência.
Por isso hoje, com a Lua Minguante em Escorpião, estou aqui a partilhar convosco que aprendizagem e tomada de consciência foi esta. Já não se trata de um lamento ou reivindicação ou vitimização, mas sim uma lição que me permito a partilhar…
Ler mais: http://www.ninhodaserpente.net/news/a-abundancia-e-a-ferida-da-mae-por-isabel-maria-angelica-20-jan-2017/

Curandeiras e sábias

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Mulheres sábias, herbalistas, parteiras, bruxas e sacerdotisas.

As mulheres têm sido curandeiras desde o início dos tempos, misturando um conhecimento das plantas, águas e terra com as práticas espirituais de sua cultura e tempo.

Hoje surge um novo paradigma de mulheres curandeiras. Aquelas que honram as antigas tradições e apoiam a integridade da saúde e dos ciclos extáticos das mulheres e ainda assim repensam isso de uma forma moderna para alcançar e apoiar as mulheres hoje em dia.

O novo paradgima de curadora trabalha com respeito às antigas tradições de cura natural, honra ciclos femininos e corpos como inerentemente saudáveis e naturais, e integra a ciência de hoje, consciência histórica e comunicação tecnológica em nossas maneiras de apoiar, ensinar e capacitar as pessoas hoje.

Houve caças às bruxas há milhares de anos, e ainda continuam. Aqueles que praticaram o auto-empoderamento ou as artes de cura baseadas na comunidade foram assediadas, abusadas e mortas por ameaçar as instituições patriarcais e os profissionais do sexo masculino.

Desde a Grécia Antiga, quando as mulheres foram proibidas de praticar como parteiras, até à queima de curandeiros como bruxas na Europa na Idade Média, até hoje, quando o exercício de parteira é ainda ilegal em muitos estados, e clínicas de saúde das mulheres são alvo de atos violentos – as curandeiras têm uma história de opressão, porque as mulheres saudáveis são mulheres capacitadas e as mulheres capacitadas mudam o mundo.

Hoje está a mudar, sim, mas ainda enfrentamos desafios. Não apenas as mulheres, mas também os homens que optam por questionar o monopólio médico estabelecido.

No entanto, a nova era das mídias sociais, da internet e da comunicação global permitiu-nos fazer uma rede, aprender uns com os outros, compartilhar nossa sabedoria e práticas e revitalizar as antigas tradições e mantê-las vivas para ajudar as mulheres a prosperar.

As mulheres sábias, bruxas, sacerdotisas e curandeiras do passado são os empresárias, blogueiras, treinadoras de capacitação das mulheres, enfermeiras, massoterapeutas, médicas, parteiras, professoras de yoga, artistas e escritoras de hoje. Estamos a encontrar novas maneiras de manter viva a sabedoria feminina.

Descubre as muitas maneiras de fortalecer para honrar e cuidar de seu corpo, seios, útero e ciclos com práticas naturais de cura!

Compartilha as tuas histórias, a tua voz, a tua sabedoria, lembra-te dos antigos caminhos das sábias e selvagens curandeiras do mundo.

Segue o chamado da tua alma e sê a líder feminina sagrada que estás aqui para ser.

Agora é o momento em que o feminino está a emergir para trazer equilíbrio e cura ao mundo, e todos nós somos chamadas a entrar em nosso poder ancestral como guardiãs da sabedoria das mulheres hoje.

O conhecimento abre a porta para que possamos proteger os nossos corpos, as nossas irmãs, os nossos espíritos e curar a Terra.

– Kara Maria Ananda

(tradução por Isabel Maria Angélica)

A ruptura da linha Materna e o preço de tornar-se Verdadeira por Bethany Webster

Uma das experiências mais duras que uma filha pode ter numa relação mãe/filha é perceber que a sua mãe investiu, de forma inconsciente, na sua pequenez. Para as mulheres nesta situação, é de partir o coração aperceber-se que a pessoa que lhe deu á luz, de forma inconsciente, encara o seu empoderamento como uma perda para si própria. Em ultima análise, não é pessoal mas uma tragédia muito real da nossa cultura patriarcal que diz às mulheres que eles são “menos do que”.

Todas desejamos ser reais, ser vistas de forma precisa, ser reconhecidas, e ser amadas pelo que realmente somos, na nossa completa e inteira autenticidade. Isto é uma necessidade humana. A verdade é que o processo de nos tornarmos no nosso verdadeiro Ser envolve sermos desarrumadas, grandes, intensas, assertivas e complexas; tudo aquilo que o patriarcado retrata como sendo pouco atrativo na mulher.

Historicamente, a nossa cultura tem sido hostil para com a ideia das mulheres como indivíduos de verdade.

O patriarcado retrata a mulher atraente como a mulher que gosta de agradar, que procura aprovação, que cuida emocionalmente, que evita conflitos e é tolerante aos maus tratos. Até determinado ponto as mãe passam esta mensagem às suas de filhas, de forma inconsciente, levando as filhas a criarem um falso Ser, geralmente sob a máscara da rebelde, da solitária ou, da boa rapariga. A mensagem principal é “tens de te manter pequena, por forma a seres amada”. Contudo, cada nova geração de mulheres vem com a fome de ser real. Poderemos dizer que a cada nova geração, o patriarcado está a enfraquecer e que a fome de ser Real está a fortalecer-se nas mulheres, e está de facto a começar a assumir uma certa urgência.

O anseio por ser Real e a ânsia de mãe

Isto representa um dilema para filhas criadas no patriarcado. O anseio para ser a sua verdadeira essência e o anseio por ser nutrida pela mãe tornam-se necessidades em competição; há um sentir que tem de se escolher entre elas. Isto acontece porque o teu empoderamento fica limitado ao nível que as crenças patriarcais foram interiorizadas pela tua própria mãe e ela espera que lhes correspondas. A pressão por parte da tua mãe para que te mantenhas pequena vem de duas fontes principais: 1) o grau a que ela interiorizou as crenças limitativas patriarcais da sua própria mãe, e 2) o nível da sua própria perda que resulta dela estar dissociada do seu verdadeiro Ser. Estas duas coisas estropiam a capacidade de uma mãe em iniciar a sua filha na sua própria vida.

O preço de te tornares no teu verdadeiro Ser envolve, com frequência, algum nível de “ruptura” com a linha maternal. Quando isto acontece, estás a quebrar com as teias patriarcais internas da tua linha materna, o que é essencial para uma vida adulta saudável e empoderada. Isto normalmente manifesta-se em alguma forma de dor, ou conflito com a tua mãe. Rupturas com linha materna tomar várias formas: desde conflito e desentendimento até ao distanciamento e afastamento. É uma viagem pessoal e é diferente para cada mulher. Em última análise a ruptura está ao serviço da transformação e da cura. Faz parte do impulso evolucionário do acordar feminino estar mais conscientemente empoderada. É o nascimento da “mãe não patriarcal” e o início da verdadeira liberdade e individualização. Num dos extremos, para relacionamentos mãe/filha mais saudáveis, a ruptura pode causar conflito mas, serve de facto para fortalecer o laço e torná-lo mais autêntico.

No outro extremo, para relações mãe/filha abusivas ou menos saudáveis, a ruptura pode despoletar feridas não sanadas na mãe, levando-a a atacar ou renegar completamente a sua filha. E em alguns casos, infelizmente, uma filha não verá outra hipótese a não ser manter a distância indefinidamente, para preservar o seu bem estar emocional. Aqui a mãe pode encarar a separação/ruptura como uma ameaça, não o resultado do teu desejo de crescimento, mas como uma afronta, um ataque pessoal e rejeição daquilo que ela É. Nesta situação, pode ser doloroso ver como o teu desejo de empoderamento, ou crescimento pessoal, pode levar a tua mãe encare-te como uma inimiga mortal.

Nestes casos podemos ver de forma exacta o custo brutal que o patriarcado exerce no relacionamento mãe/filha.

“Eu não posso ser feliz se a minha mãe for infeliz.” Já alguma vez te sentiste assim?

Geralmente esta crença vem dor de ver a tua mãe sofrer das suas próprias privações interiores e da compaixão pela sua luta, sob o peso das demandas patriarcais. Contudo, quando sacrificamos a nossa própria felicidade pela da nossa mãe, estamos de facto a impedir a cura necessária que vem fazer o luto à ferida na nossa linha materna. Isso só irá manter a ambas, mãe e filha, aprisionadas. Não podemos curar as nossas mães e não podemos fazer com que nos vejam com exactidão, não importa o quão arduamente tentemos. O que traz a cura é o fazer o luto. Temos de chorar por nós próprias e pela nossa linha materna. Este pranto traz uma incrível liberdade. Com cada vaga de tristeza nós reconectamos-nos com as nossas partes que tivemos de renegar, por forma a sermos aceites pelas nossas famílias.
Sistemas pouco saudáveis têm de ser rompidos por forma a encontrar um novo equilíbrio, mais saudável e de mais alto nível. É um paradoxo que curemos, de facto, a nossa linha materna quando cortamos com os padrões patriarcais na linha materna, não quando permanecemos cúmplices como forma de manter uma paz superficial. É necessário garra e coragem para nos recusarmos a compactuar com os padrões patriarcais que se mantêm há gerações nas nossas famílias.

Permitirmos que as nossas mães sejam indivíduos liberta-nos a nós (como filhas) para sermos indivíduos

As crenças patriarcais alimentam uma diluição inconsciente, entre as mães e as filhas na qual só uma delas pode ser poderosa; é uma dinâmica de ou/ou baseada na escassez que as deixa a ambas desempoderadas. Para as mães que tenham sido particularmente privadas do seu próprio poder as filhas podem tornar-se “alimento” para a sua identidade atrofiada e um “saco” de despejo dos seus próprios problemas. Temos de deixar as nossas mães fazerem as suas próprias viagens e de deixarmos de nos sacrificar por elas.

Estamos a ser chamadas a ser verdadeiros indivíduos, mulheres que se individuam das crenças do patriarcado e assumimos o nosso valor, sem vergonha. Paradoxalmente é a nossa individualidade plenamente assumida que vai contribuir para uma sociedade unificada, saudável e integra.

Tradicionalmente as mulheres são ensinadas que é nobre carregar com o sofrimento dos outros; que o cuidar emocionalmente é um dever nosso e que devemos sentir-nos culpadas se nos desviamos desta função. Neste contexto, a culpa não está relacionada com consciência mas com controle. Esta culpa mantém-nos diluídas nas nossas mães, esvaídas e ignorantes do nosso poder. Temos de perceber que não há uma causa real para a culpa. Este papel de cuidadoras emocionais nunca foi o nosso verdadeiro papel. É somente uma parte do nosso legado de opressão. Visto desta forma podemos parar de permitir que a culpa nos controle.

Abster-se de cuidar emocionalmente e deixar que as pessoas vivenciem as suas próprias lições é uma forma de respeito pelo Eu e pelo Outro

O nosso excesso de funcionamento contribui para o desequilibro na nossa sociedade e desempodera activamente os outros, mantendo-os afastados da sua própria transformação. Temos de parar de carregar o peso dos outros. Fazemo-lo assumindo que é a mais pura futilidade. E temos de recusar-nos a ser guardiãs emocionais e depósitos de lixo daqueles que se recusam a fazer o trabalho necessário para a sua própria transformação.

Contrariamente ao que nos foi ensinado, não temos de curar a nossa família inteira. Nós só temos de nos curar a nós próprios.

Ao invés de te sentires culpada por não seres capaz de curar a tua mãe e os membros da tua família, dá a ti própria permissão para seres inocente. Fazendo isto estás a retomar a tua pessoalidade e a deixar de dar poder á ferida da mãe. Em consequência estás a devolver aos membros da tua família o próprio poder de vivenciarem a sua própria jornada. Esta é uma grande mudança energética que advém de conhecermos o nosso próprio valor, demonstrando-o na forma como nos mantemos no nosso poder, apesar dos apelos para o entregarmos a outros.

O preço de nos tornarmos verdadeiras nunca é tão elevado como o preço de nos mantermos no falso Ser

É possível que tenhamos reações da nossa mãe (e da nossa família) quando nos tornamos mais verdadeiras. Poderemos enfrentar mau humor, hostilidade, afastamento, ou difamação. As ondas de choque podem espalhar-se a todo o sistema familiar. E pode abanar-nos ver o quão rápido podemos ser rejeitadas, ou abandonadas quando deixamos de ser o motor de tudo e todos e incorporamos o nosso verdadeiro Ser. Contudo, esta verdade tem de ser vista e a dor suportada se queremos tornar-nos realmente verdadeiras. Por este motivo é essencial ter ajuda.

No artigo “Mindfulness and the Mother Wound” (Consciência e a Ferida da Mãe) Philipp Moffitt descreve as quarto funções de uma mãe. Nutridora, Protectora, Empoderadora e Iniciadora. Moffitt afirma que o papel de Iniciadora “é o mais altruísta de todos os aspectos, porque está a encorajar uma separação que a vai deixar desprovida (de filha).”

Esta função é profunda, mesmo para uma mãe que tenha sido completamente honrada e apoiada na sua própria vida, mas quase impossível para mães que tenham passado por grandes tormentos e não tenham curado suficientemente as suas próprias feridas.
O patriarcado limita severamente a mãe na sua capacidade de iniciar a filha na sua própria pessoalidade, porque no patriarcado, a mãe foi privada de si própria. Configura a sua filha para a auto-sabotagem , o seu filho para a misoginia e o desrespeito pelo solo sagrado do qual viemos, a própria terra.

É precisamente esta função como mãe que “proporciona a iniciação” que lança a filha para a sua própria e incomparável vida, mas este papel só é possível na medida em que a mãe tenha experienciado, ou encontrado a sua própria iniciação. Mas o processo de separação saudável entre mãe e filha é grandemente frustrado numa cultura patriarcal.

O problema reside no facto de maior parte das mulheres viverem uma vida inteira á espera que as suas mães as iniciem na sua própria vida, quando as suas mães são incapazes de lhes providenciar isto.

É muito comum assistirmos ao adiamento do luto da ferida materna, com as mulheres a voltarem constantemente à “fonte seca” das suas mães, em busca da permissão e do amor que as suas mães absolutamente não têm a capacidade de lhes dar. Ao invés de fazer o luto completo, as mulheres tendem a culpar-se, o que as mantém aprisionadas. Temos de carpir a incapacidade das nossas mães de nos iniciarem e embarcar de forma consciente na nossa própria iniciação.

A ruptura é de facto sinal de um impulso evolucionário para nos distanciarmos dos enredos patriarcais da nossa linha materna, quebrar com a nossa inconsciente diluição nas nossas mães, fomentada pelo patriarcado e tornarmo-nos iniciadas na nossa própria vida.

O meu trabalho a ajudar mulheres a curar a sua ferida materna é ajudar mulheres a sair deste ciclo de auto culpabilização e fazerem o luto necessário para que possam finalmente reclamar o poder e o potencial das suas próprias vidas. Parte do processo consiste em abraçar esta profunda ferida existencial, para que possa finalmente, ser iniciada na liberdade e criatividade da sua própria vida. Em última instância este luto cede lugar à compaixão e gratidão genuínas para com a nossa mãe e as mães que as antecederam.
É importante percebermos que não estamos a rejeitar as nossas mães quando rejeitamos as suas crenças patriarcais que dizem nos devemos manter pequenas para sermos aceites. O que estamos de facto a fazer é reclamar a nossa força vital aos padrões impessoais e limitativos que mantiveram as mulheres reféns durante séculos.

Cria um espaço seguro para a necessidade de mãe

Apesar de sermos mulheres adultas ainda temos necessidade de mãe. O que pode ser devastador é sentir esta necessidade de mãe e saber que a tua própria mãe não consegue preencher esta necessidade, apesar de ter tentado o seu melhor. É importante encarar este facto e fazer o luto. A tua necessidade é sagrada e deve ser honrada. Permitir abrir espaço para este luto é uma parte importante do processo de seres uma boa mãe para ti própria. Se não carpirmos a nossa necessidade de cuidados maternais directamente, ela vai infiltrar-se inconscientemente nos nossos relacionamentos, causando dor e conflitos.

O processo de cura da ferida materna consiste em encontrar a tua própria iniciação para dentro do poder e propósito da tua própria vida

Isto não é um trabalho de auto empoderamento de pouca importância. Curar a ferida de mãe é essencial e fundamental; é um trabalho de qualidade em profundidade, que te vai transformar ao nível mais profundo e te vai libertar, como mulher, dos grilhões centenários que herdaste da tua própria linha materna. Temos de nos desintoxicar dos fios patriarcais na nossa linha materna, por forma a podermos assumir na nossa própria mestria.

Do papel da “Mãe como iniciadora”, o Moffitt diz “Este poder de iniciar está associado com o Shaman, a Deusa, o Mago e a Mulher Medicina”. Á medida que mais e mais mulheres curam a ferida materna e consequentemente assumem firmemente o seu poder, encontramos finalmente a iniciação que procurávamos. Tornamo-nos capazes de iniciar, não só as nossas filhas, mas também a nossa cultura como um todo que está a passar por uma transformação massiva. Estamos a ser chamadas a procurar nas nossas entranhas aquilo que não recebemos. À medida que reclamamos a nossa própria iniciação por forma a curar a ferida materna, juntas como um todo, encarnamos progressivamente a Deusa que deu à luz um mundo novo.

Texto original aqui:

http://www.womboflight.com/the-rupture-of-the-mother-line-and-the-cost-of-becoming-real/