Archive | Dezembro 2016

A ruptura da linha Materna e o preço de tornar-se Verdadeira por Bethany Webster

Uma das experiências mais duras que uma filha pode ter numa relação mãe/filha é perceber que a sua mãe investiu, de forma inconsciente, na sua pequenez. Para as mulheres nesta situação, é de partir o coração aperceber-se que a pessoa que lhe deu á luz, de forma inconsciente, encara o seu empoderamento como uma perda para si própria. Em ultima análise, não é pessoal mas uma tragédia muito real da nossa cultura patriarcal que diz às mulheres que eles são “menos do que”.

Todas desejamos ser reais, ser vistas de forma precisa, ser reconhecidas, e ser amadas pelo que realmente somos, na nossa completa e inteira autenticidade. Isto é uma necessidade humana. A verdade é que o processo de nos tornarmos no nosso verdadeiro Ser envolve sermos desarrumadas, grandes, intensas, assertivas e complexas; tudo aquilo que o patriarcado retrata como sendo pouco atrativo na mulher.

Historicamente, a nossa cultura tem sido hostil para com a ideia das mulheres como indivíduos de verdade.

O patriarcado retrata a mulher atraente como a mulher que gosta de agradar, que procura aprovação, que cuida emocionalmente, que evita conflitos e é tolerante aos maus tratos. Até determinado ponto as mãe passam esta mensagem às suas de filhas, de forma inconsciente, levando as filhas a criarem um falso Ser, geralmente sob a máscara da rebelde, da solitária ou, da boa rapariga. A mensagem principal é “tens de te manter pequena, por forma a seres amada”. Contudo, cada nova geração de mulheres vem com a fome de ser real. Poderemos dizer que a cada nova geração, o patriarcado está a enfraquecer e que a fome de ser Real está a fortalecer-se nas mulheres, e está de facto a começar a assumir uma certa urgência.

O anseio por ser Real e a ânsia de mãe

Isto representa um dilema para filhas criadas no patriarcado. O anseio para ser a sua verdadeira essência e o anseio por ser nutrida pela mãe tornam-se necessidades em competição; há um sentir que tem de se escolher entre elas. Isto acontece porque o teu empoderamento fica limitado ao nível que as crenças patriarcais foram interiorizadas pela tua própria mãe e ela espera que lhes correspondas. A pressão por parte da tua mãe para que te mantenhas pequena vem de duas fontes principais: 1) o grau a que ela interiorizou as crenças limitativas patriarcais da sua própria mãe, e 2) o nível da sua própria perda que resulta dela estar dissociada do seu verdadeiro Ser. Estas duas coisas estropiam a capacidade de uma mãe em iniciar a sua filha na sua própria vida.

O preço de te tornares no teu verdadeiro Ser envolve, com frequência, algum nível de “ruptura” com a linha maternal. Quando isto acontece, estás a quebrar com as teias patriarcais internas da tua linha materna, o que é essencial para uma vida adulta saudável e empoderada. Isto normalmente manifesta-se em alguma forma de dor, ou conflito com a tua mãe. Rupturas com linha materna tomar várias formas: desde conflito e desentendimento até ao distanciamento e afastamento. É uma viagem pessoal e é diferente para cada mulher. Em última análise a ruptura está ao serviço da transformação e da cura. Faz parte do impulso evolucionário do acordar feminino estar mais conscientemente empoderada. É o nascimento da “mãe não patriarcal” e o início da verdadeira liberdade e individualização. Num dos extremos, para relacionamentos mãe/filha mais saudáveis, a ruptura pode causar conflito mas, serve de facto para fortalecer o laço e torná-lo mais autêntico.

No outro extremo, para relações mãe/filha abusivas ou menos saudáveis, a ruptura pode despoletar feridas não sanadas na mãe, levando-a a atacar ou renegar completamente a sua filha. E em alguns casos, infelizmente, uma filha não verá outra hipótese a não ser manter a distância indefinidamente, para preservar o seu bem estar emocional. Aqui a mãe pode encarar a separação/ruptura como uma ameaça, não o resultado do teu desejo de crescimento, mas como uma afronta, um ataque pessoal e rejeição daquilo que ela É. Nesta situação, pode ser doloroso ver como o teu desejo de empoderamento, ou crescimento pessoal, pode levar a tua mãe encare-te como uma inimiga mortal.

Nestes casos podemos ver de forma exacta o custo brutal que o patriarcado exerce no relacionamento mãe/filha.

“Eu não posso ser feliz se a minha mãe for infeliz.” Já alguma vez te sentiste assim?

Geralmente esta crença vem dor de ver a tua mãe sofrer das suas próprias privações interiores e da compaixão pela sua luta, sob o peso das demandas patriarcais. Contudo, quando sacrificamos a nossa própria felicidade pela da nossa mãe, estamos de facto a impedir a cura necessária que vem fazer o luto à ferida na nossa linha materna. Isso só irá manter a ambas, mãe e filha, aprisionadas. Não podemos curar as nossas mães e não podemos fazer com que nos vejam com exactidão, não importa o quão arduamente tentemos. O que traz a cura é o fazer o luto. Temos de chorar por nós próprias e pela nossa linha materna. Este pranto traz uma incrível liberdade. Com cada vaga de tristeza nós reconectamos-nos com as nossas partes que tivemos de renegar, por forma a sermos aceites pelas nossas famílias.
Sistemas pouco saudáveis têm de ser rompidos por forma a encontrar um novo equilíbrio, mais saudável e de mais alto nível. É um paradoxo que curemos, de facto, a nossa linha materna quando cortamos com os padrões patriarcais na linha materna, não quando permanecemos cúmplices como forma de manter uma paz superficial. É necessário garra e coragem para nos recusarmos a compactuar com os padrões patriarcais que se mantêm há gerações nas nossas famílias.

Permitirmos que as nossas mães sejam indivíduos liberta-nos a nós (como filhas) para sermos indivíduos

As crenças patriarcais alimentam uma diluição inconsciente, entre as mães e as filhas na qual só uma delas pode ser poderosa; é uma dinâmica de ou/ou baseada na escassez que as deixa a ambas desempoderadas. Para as mães que tenham sido particularmente privadas do seu próprio poder as filhas podem tornar-se “alimento” para a sua identidade atrofiada e um “saco” de despejo dos seus próprios problemas. Temos de deixar as nossas mães fazerem as suas próprias viagens e de deixarmos de nos sacrificar por elas.

Estamos a ser chamadas a ser verdadeiros indivíduos, mulheres que se individuam das crenças do patriarcado e assumimos o nosso valor, sem vergonha. Paradoxalmente é a nossa individualidade plenamente assumida que vai contribuir para uma sociedade unificada, saudável e integra.

Tradicionalmente as mulheres são ensinadas que é nobre carregar com o sofrimento dos outros; que o cuidar emocionalmente é um dever nosso e que devemos sentir-nos culpadas se nos desviamos desta função. Neste contexto, a culpa não está relacionada com consciência mas com controle. Esta culpa mantém-nos diluídas nas nossas mães, esvaídas e ignorantes do nosso poder. Temos de perceber que não há uma causa real para a culpa. Este papel de cuidadoras emocionais nunca foi o nosso verdadeiro papel. É somente uma parte do nosso legado de opressão. Visto desta forma podemos parar de permitir que a culpa nos controle.

Abster-se de cuidar emocionalmente e deixar que as pessoas vivenciem as suas próprias lições é uma forma de respeito pelo Eu e pelo Outro

O nosso excesso de funcionamento contribui para o desequilibro na nossa sociedade e desempodera activamente os outros, mantendo-os afastados da sua própria transformação. Temos de parar de carregar o peso dos outros. Fazemo-lo assumindo que é a mais pura futilidade. E temos de recusar-nos a ser guardiãs emocionais e depósitos de lixo daqueles que se recusam a fazer o trabalho necessário para a sua própria transformação.

Contrariamente ao que nos foi ensinado, não temos de curar a nossa família inteira. Nós só temos de nos curar a nós próprios.

Ao invés de te sentires culpada por não seres capaz de curar a tua mãe e os membros da tua família, dá a ti própria permissão para seres inocente. Fazendo isto estás a retomar a tua pessoalidade e a deixar de dar poder á ferida da mãe. Em consequência estás a devolver aos membros da tua família o próprio poder de vivenciarem a sua própria jornada. Esta é uma grande mudança energética que advém de conhecermos o nosso próprio valor, demonstrando-o na forma como nos mantemos no nosso poder, apesar dos apelos para o entregarmos a outros.

O preço de nos tornarmos verdadeiras nunca é tão elevado como o preço de nos mantermos no falso Ser

É possível que tenhamos reações da nossa mãe (e da nossa família) quando nos tornamos mais verdadeiras. Poderemos enfrentar mau humor, hostilidade, afastamento, ou difamação. As ondas de choque podem espalhar-se a todo o sistema familiar. E pode abanar-nos ver o quão rápido podemos ser rejeitadas, ou abandonadas quando deixamos de ser o motor de tudo e todos e incorporamos o nosso verdadeiro Ser. Contudo, esta verdade tem de ser vista e a dor suportada se queremos tornar-nos realmente verdadeiras. Por este motivo é essencial ter ajuda.

No artigo “Mindfulness and the Mother Wound” (Consciência e a Ferida da Mãe) Philipp Moffitt descreve as quarto funções de uma mãe. Nutridora, Protectora, Empoderadora e Iniciadora. Moffitt afirma que o papel de Iniciadora “é o mais altruísta de todos os aspectos, porque está a encorajar uma separação que a vai deixar desprovida (de filha).”

Esta função é profunda, mesmo para uma mãe que tenha sido completamente honrada e apoiada na sua própria vida, mas quase impossível para mães que tenham passado por grandes tormentos e não tenham curado suficientemente as suas próprias feridas.
O patriarcado limita severamente a mãe na sua capacidade de iniciar a filha na sua própria pessoalidade, porque no patriarcado, a mãe foi privada de si própria. Configura a sua filha para a auto-sabotagem , o seu filho para a misoginia e o desrespeito pelo solo sagrado do qual viemos, a própria terra.

É precisamente esta função como mãe que “proporciona a iniciação” que lança a filha para a sua própria e incomparável vida, mas este papel só é possível na medida em que a mãe tenha experienciado, ou encontrado a sua própria iniciação. Mas o processo de separação saudável entre mãe e filha é grandemente frustrado numa cultura patriarcal.

O problema reside no facto de maior parte das mulheres viverem uma vida inteira á espera que as suas mães as iniciem na sua própria vida, quando as suas mães são incapazes de lhes providenciar isto.

É muito comum assistirmos ao adiamento do luto da ferida materna, com as mulheres a voltarem constantemente à “fonte seca” das suas mães, em busca da permissão e do amor que as suas mães absolutamente não têm a capacidade de lhes dar. Ao invés de fazer o luto completo, as mulheres tendem a culpar-se, o que as mantém aprisionadas. Temos de carpir a incapacidade das nossas mães de nos iniciarem e embarcar de forma consciente na nossa própria iniciação.

A ruptura é de facto sinal de um impulso evolucionário para nos distanciarmos dos enredos patriarcais da nossa linha materna, quebrar com a nossa inconsciente diluição nas nossas mães, fomentada pelo patriarcado e tornarmo-nos iniciadas na nossa própria vida.

O meu trabalho a ajudar mulheres a curar a sua ferida materna é ajudar mulheres a sair deste ciclo de auto culpabilização e fazerem o luto necessário para que possam finalmente reclamar o poder e o potencial das suas próprias vidas. Parte do processo consiste em abraçar esta profunda ferida existencial, para que possa finalmente, ser iniciada na liberdade e criatividade da sua própria vida. Em última instância este luto cede lugar à compaixão e gratidão genuínas para com a nossa mãe e as mães que as antecederam.
É importante percebermos que não estamos a rejeitar as nossas mães quando rejeitamos as suas crenças patriarcais que dizem nos devemos manter pequenas para sermos aceites. O que estamos de facto a fazer é reclamar a nossa força vital aos padrões impessoais e limitativos que mantiveram as mulheres reféns durante séculos.

Cria um espaço seguro para a necessidade de mãe

Apesar de sermos mulheres adultas ainda temos necessidade de mãe. O que pode ser devastador é sentir esta necessidade de mãe e saber que a tua própria mãe não consegue preencher esta necessidade, apesar de ter tentado o seu melhor. É importante encarar este facto e fazer o luto. A tua necessidade é sagrada e deve ser honrada. Permitir abrir espaço para este luto é uma parte importante do processo de seres uma boa mãe para ti própria. Se não carpirmos a nossa necessidade de cuidados maternais directamente, ela vai infiltrar-se inconscientemente nos nossos relacionamentos, causando dor e conflitos.

O processo de cura da ferida materna consiste em encontrar a tua própria iniciação para dentro do poder e propósito da tua própria vida

Isto não é um trabalho de auto empoderamento de pouca importância. Curar a ferida de mãe é essencial e fundamental; é um trabalho de qualidade em profundidade, que te vai transformar ao nível mais profundo e te vai libertar, como mulher, dos grilhões centenários que herdaste da tua própria linha materna. Temos de nos desintoxicar dos fios patriarcais na nossa linha materna, por forma a podermos assumir na nossa própria mestria.

Do papel da “Mãe como iniciadora”, o Moffitt diz “Este poder de iniciar está associado com o Shaman, a Deusa, o Mago e a Mulher Medicina”. Á medida que mais e mais mulheres curam a ferida materna e consequentemente assumem firmemente o seu poder, encontramos finalmente a iniciação que procurávamos. Tornamo-nos capazes de iniciar, não só as nossas filhas, mas também a nossa cultura como um todo que está a passar por uma transformação massiva. Estamos a ser chamadas a procurar nas nossas entranhas aquilo que não recebemos. À medida que reclamamos a nossa própria iniciação por forma a curar a ferida materna, juntas como um todo, encarnamos progressivamente a Deusa que deu à luz um mundo novo.

Texto original aqui:

http://www.womboflight.com/the-rupture-of-the-mother-line-and-the-cost-of-becoming-real/

Quando a Lealdade às nossas Mães significa Lealdade à nossa opressão: como nos libertarmos por Bethany Webster

Todas as crianças são leais às suas mães. Elas precisam que ela sobreviva. Quanto mais stressada for uma mãe, menos disponível estará emocionalmente para o seu filho. É possível que nesta dinâmica …

Source: Quando a Lealdade às nossas Mães significa Lealdade à nossa opressão: como nos libertarmos por Bethany Webster

Quando a Lealdade às nossas Mães significa Lealdade à nossa opressão: como nos libertarmos por Bethany Webster

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Todas as crianças são leais às suas mães. Elas precisam que ela sobreviva. Quanto mais stressada for uma mãe, menos disponível estará emocionalmente para o seu filho. É possível que nesta dinâmica os filhos tenham de desenvolver estratégias para conseguir lidar com o stress da mãe. Estas estratégias podem ainda estar activadas em nós enquanto adultos, causando dor e frustração.

Como estratégia, as crianças podem desenvolver algo semelhante daquilo que conhecemos como “o sonho impossível”, a crença de que se apenas demonstrares lealdade para com a mãe, absorvendo as suas crenças e dores como próprias, então ela um dia irá reconhecer-nos e amar-nos como desejamos que ela nos ame. Esta é a perspectiva da criança, mas tem um enorme poder para a nossa vida dado que foi desenvolvida desde pequena.

Até a um certo ponto, precisamos compreender que estas estratégias não levam a mãe a mudar. Elas não funcionam assim.

A maior mudança pode ocorrer quando vemos que é seguro largarmos a lealdade aos padrões que achámos que nos iriam garantir a maternidade que precisamos:

– Ficarmos para sempre pequenas
– Sentirmos falta de amor por nós
– Sermos medrosas e hiper vigilantes
– Acreditar na escassez
– Alimentar a escassez na nossa vida
– Sermos as vítimas
– Resolver o problemas de todos
– Suprimir os nossos sentimentos e respostas

Estes padrões podem ter sido ensinados repetitivamente pela nossa mãe OU podemos tê-los aprendido apenas observando o seu comportamento. Muito provavelmente, estes padrões foram passados pela sua própria mãe ou pelo seu ambiente cultural. Porque vivemos numa sociedade patriarcal que nos diz que as mulheres são “inferiores” e todas nós carregamos essas crenças de alguma forma. (Elas podem ainda ser mais destruidoras se a nossa mãe não era/é saudável ou tem problemas mentais). Estes padrões são muito difíceis de deixar ir, dado que, de certa forma, deixá-los ir significa “deixar ir a mãe” – e para a nossa consciência e para a nossa criança interior isto pode assemelhar-se a uma morte. Por exemplo, se a nossa mãe era muito medrosa, podemos de forma inconsciente absorver os seus medos de forma a nos sentirmos próxima dela. Deixar ir esta estratégia dos medos pode ser assustador, dado que estaremos a deixar ir a nossa própria mãe. Outro exemplo é o deixar a auto-culpa. Se somos ensinados a nos culparmos e a sermos recompensados por isso, deixar ir esta estratégia pode provocar o sentimento de que estamos a trair a nossa mãe.

Dado que estes padrões estão associados à forma como somos nutridos, eles próprios começam a representar, de forma inconsciente, a presença da nossa mãe nas nossas vidas. Estes padrões podem trazer-nos aprovação temporária, validação ou aceitação de forma pontual. Mas como adultos, eles apenas servem para nos manter de cabeça baixa. Pois eles foram formados tão cedo no nosso desenvolvimento que a tendência é que estas crenças e padrões permanecem de forma inconsciente e podem ficar por anos nas nossas vidas até vermos a sua origem. Uma das coisas mais importantes será o de ver como estas estratégias e padrões não nos trouxeram o que mais queríamos – que a nossa mãe tivesse estado presente quando precisámos dela. Quando chorarmos essa perda, podemos-nos libertar para vivermos e agirmos de novas formas.

Existem 3 partes a cumprir para deixarmos ir estes padrões persistentes:

1) Agradecer de forma genuína a esses padrões por nos terem servido.

Exemplos:
– A ansiedade de ter o amor da mãe pode-nos ter ajudado a alcançar muito no mundo.
– Ser um cuidador emocional pode-nos ter ajudado a desenvolver a capacidade de empatia com os sentimentos dos outros.
– O controlo ou a rigidez pode-nos ter ajudado a ter a capacidade de fazermos muitas coisas.

2) Entender que aquilo que estamos a tentar alcançar inconscientemente com o padrão é impossível.

Se calhar a parte mais intensa deste processo é percebermos que não importa o quanto fomos leais a esses padrões, pois eles não nos trouxeram a mãe que queríamos ou precisávamos. Fosse o que fosse que estivesse a acontecer na nossa família quando éramos crianças, nunca foi sobre nós. (Embora essa seja a única forma das crianças interpretarem formas de abandono ou abuso que é tudo sobre elas). Quando na realidade, é na realidade sobre o que está a acontecer com os pais, situações sobre as quais não tivemos nenhum controlo enquanto crianças. A verdade é que por mais bonzinhos que fossemos enquanto crianças (por mais inteligentes, bonitos, talentosos, bem-comportados, etc) isso nunca iria mudar a situação da família tal como precisávamos para termos o que queríamos. É por isso que as únicas pessoas que tinham o poder na situação eram os adultos cujas decisões e escolhas tiveram impacto em nós enquanto crianças. Fosse o que fosse que estivesse a acontecer no nosso ambiente familiar enquanto crianças, não era a nossa culpa e nós não tínhamos poder nenhum em mudar nada.

Aceitar a nossa impotência quando éramos crianças é um enorme passo para a liberdade! A incapacidade dos nossos pais de nos darem o que precisámos nada tem a ver connosco. É necessário chorarmos e libertarmos isto e para tal precisamos de apoio. O verdadeiro deixar ir requer um luto que irá criar espaço para novas formas de estarmos no mundo que realmente nos nutrem e nos preenchem.

3) Identificar novas e positivas crenças ou padrões para substituir as velhas e negativas. E depois haver o compromisso de agirmos em função dessas novas crenças.

Exemplos:
– É seguro sair do medo e acreditar em mim mesmo/a (Acção: sermos doces com os nossos medos à medida que arriscamos em algo novo ou começamos um projecto onde iremos estar visíveis para os outros)
– Dou autorização a mim mesmo/a para honrar as minhas necessidades e falar a minha verdade (Acção: falar em nome próprio e numa situação em que as tuas fronteiras não estão a ser respeitadas)
– Eu honro a minha verdade mesmo que aqueles que me rodeiam não aprovem (Acção: fazer algo que é apropriado para nós mesmo que os outros rejeitem)

Esta acção dá-nos uma nova experiência que transmite ao nosso subconsciente mensagens poderosas de que É seguro agir contra aquilo que aprendemos enquanto crianças. Noutras palavras, não agir de acordo com os padrões não irá causar rejeição, humilhação ou abandono tal como acontecia na infância. De certa forma, é através de trazermos a nossa criança interior até ao presente, onde ela PODE experimentar ser apoioada por aquilo que ela É, porque tu, como adulto, estás ali ao lado dela na maneira como a tua mãe não conseguiu. Isto cria uma maior integração dentro de nós mesmo e mais desapego e distância dos padrões que nos prejudicam que adoptámos na infância. A chave aqui é a consistência. De forma consistente, pequenos passos levam a grandes transformações ao longo do tempo.

É importante percebermos como estas antigas estratégias não funcionavam.

Exemplos:
– Sermos sossegados não fazia com os que outros nos aprovassem
– Resolver os problemas da família não criava paz duradoura ou protegia da rejeição
– Sermos o animal de estimação da mãe e concordarmos sempre com ela não fazia com que ela nos visse realmente
– Absorver as crenças de medo da mãe não nos fizeram sentir seguros
– Ficarmos pequenos e em silêncio não fizeram com que a nossa mãe nos aprovasse ou validasse
– Focarmos-nos na mãe e nos seus problemas não fizeram com que ela nos escutasse ou apoiasse

Quando percebemos como estas estratégias não funcionaram, podemos então deixar ir da influência inconsciente que elas têm em nós. Normalmente, há um período de luto a fazer. Deixar ir estes padrões é, de certa forma, deixarmos ir a ilusão da mãe que achámos que ela podia ser.

Quando entendemos que a “mãe boazinha não existe” damos a nós mesmos a permissão de escolher novas formas de ser e agir num mundo que nos pode trazer alegria e preenchimento. As nossas vidas começam automaticamente a mudar em torno desta tomada de consciência. A rejeição destes padrões negativos NÃO É um rejeição pessoal da nossa mãe. Seguir para lá destes padrões de infância não significa que estamos a escolher curar e criar novas relações em substituição de outras. A nossa mãe poderá ver a mudança como uma forma de traição na medida em que ela própria também se poderá identificar com estes padrões. A sua resposta ao nosso afastamento destes padrões é a forma de como ela própria está em contacto com estes padrões; nada tem a ver connosco. Podemos entendemos o quão fúteis e doentios estes padrões são na nossa vida, mas a nossa mãe pode não ver assim. As suas opiniões não vão ditar a nossa realidade. É deixá-la ter a sua própria experiência sem pressionarmos ou explicarmos ou querermos tomar conta dela; esta é uma forma de respeito por ela e por nós próprios.

Ao longo de gerações, mães feridas têm pedido de forma inconsciente às suas filhas para as compensar por aquilo que a sociedade patriarcal e as suas famílias não lhe deram: um sentido de propósito, controlo ou validação pessoal. As filhas não podem provir por isto. Não mesmo ser dado, pode apenas ser encontrado dentro da própria mãe ao se comprometer com a sua própria cura e transformação. Quebrar este ciclo tóxico é recusar a sintonia com esta mensagem velada de uma mãe ferida: “Não me abanones tornando-te suficiente por ti mesma”. Mulher, tens o direito à tua própria vida. Deixar a tua mãe ter a sua experiência e processo de cura não é cruel (tal como o patriarcado nos disse). Isso é saudável e necessário.

O teu total empoderamento é impossível num ambiente de promiscuidade disfuncional com a tua mãe.

Recusar carregarmos a dor da nossa mãe é uma forma de quebrarmos o ciclo entre mãe/filha.

Uma separação emocional saudável é o que é necessário para trazermos um novo paradigma de harmonia e confiança entre mães e filhas. Como filha, não estás a causar dor à tua mãe por te recusares a carregar o seu fardo, mas sim estás a parar de te sacrificares para perpetuar as suas ilusões, e ao procederes assim, estás a corrigir um desequilíbrio que foram alimentado na tua linhagem feminina durante gerações. A dor que ela sente, é a sua e esteve escondida até agora. A recusa de tomares conta da tua mãe emocionalmente vai-lhe oferecer a oportunidade de ela assumir responsabilidade por si mesma. A sua personalidade pode não gostar, mas na realidade estás a servi-la num nível bem mais profundo. O teu compromisso pelo teu próprio empoderamento serve na realidade a tua mãe, dado que a abre para o seu próprio poder, se assim ela escolher. As mães que ainda se identificam com as crenças patriarcais não vão conseguir ver esta oferenda. O mais importante é que TU o saibas.

Uma grande mudança acontece quando a tua integridade se torna mais importante que a opinião da tua mãe sobre ti.

Questões para reflexão:

1 – Identifica um padrão negativo que tenhas adoptado na infância como uma mecanismo de cópia e que ainda está activo?
2 – Qual foi a situação original que causou a adopção desse padrão negativo ou crença em ti mesma?
3 – Que processo emocional precisa acontecer para que deixes ir esses padrões? O que precisa ser enfrentado? O que precisa ser reconhecido e chorado?
Que tipo de apoio precisas para este processo? E de que forma te podes ir nutrindo nesta cura?
Autora Bethany Webster
Texto retirado daqui – http://www.womboflight.com/ e com tradução livre de Isabel Maria Angélica, a 7 de de Dezembro de 2016. Imagem “Grace” por Joyce Huntington.

Este texto pode e dever ser partilhado mantendo as referências às fontes do mesmo na versão original e na tradução. Gratidão.

A minha soberania por Isabel Maria Angélica

Não trabalhes para agradar ou provar algo aos outros. Se há um chamado, cumpre-o em ti e para ti. Escrevei esta frase um destes dias a propósito de um vídeo que vi do David Bowie.

 

E fiquei a matutar e a maturar no que esta frase e as palavras do falecido cantor. E é algo profundo que mexe muito nas minhas referências de caminho e de caminhar.

De forma natural, vivi uma boa parte da minha vida para agradar os outros pois havia em mim um profundo desejo de ser amada, aceite e, até, ser popular no grupo onde me insiro. Casei nova para corresponder a essa expectativa, lutei muito para ter filhos, tentei ser uma funcionária exemplar, forcei amizades pois não queria ser abandonada. No meio destes desafios que chamei à minha vida, sempre houve em mim uma mulher inadequada às leis impostas pelo sistema vigente e extremamente inadaptada àquilo que os outros achavam que eu deveria ser. Houve sempre em mim uma altivez e realeza que buscava a autoridade plena e que por causa disso se tornou perita em desmascarar as autoridades desvirtuadas. Confrontei muitas autoridades que considerei desvirtuadas. Não porque eu soubesse à partida o que era uma autoridade virtuada e alinhada, mas sim porque detectava sempre a incoerência entre o Falar e o Caminhar de quem considerava que poderia “mandar” em mim.

A autoridade e a soberania são, sem sombra de dúvida, um forte tema para mim e que implica sair da imaturidade para assumir a realeza madura de quem se apresenta no caminho que faz com saber feito. O meu mapa astral fala dessa viagem de crescimento interno e que assenta num forte chamado de alma em manifestar uma autoridade alinhada entre o coração e útero, de dentro para fora. Não é fácil, até porque este caminho implica servir de espelho e, às vezes, de exemplo que muitos negam. Normalmente recebo de volta “elogios” de que sou arrogante, sabichona ou que me coloco num patamar onde os outros consideram que não estou. Também este é uma tema, pois ao longo do caminho fui-me despedindo da necessidade de ser unanime perante os que me rodeiam para ser, cada vez mais, fiel àquilo que sou no meio da minha humanidade ferida e da minha espiritualidade carregada de experiências traumáticas, como 99% da Humanidade.

Em Agosto de 2015, depois de um processo que iniciei com a minha essência vermelha de ser mulher, entrei numa gruta antiga minha onde o meu corpo e alma me pediram “Ocupa o teu lugar!”. Claro que o primeiro instinto foi o de pensar “lugar? qual lugar?!”… Contudo, não cedi a esse ímpeto de desresponsabilização pois eu sei qual é o meu lugar, sempre soube – estar centrada em mim e ocupar-me daquilo que sinto, penso, emano e faço. Não é tarefa fácil (nada mesmo!), pois a tendência para a fuga e escapismo é forte e é natural na humanidade que me assiste. No entanto, dentro de mim sempre soube que havia um lugar vazio no meu coração que só poderia ser ocupado por mim.

A partir do momento em que assim me foi pedido, decretei também que todos à minha volta ocupassem igualmente os seus lugares. Um astro que cumpre a sua ordem passa a ocupar uma órbita própria sem interferir na rota dos outros astros e não é possível que os outros astros interfiram na sua. Foi esse o movimento que senti ser necessário. Passei a estar centrada e ocupada no meu lugar e assim tudo à minha volta estremeceu. E todos os relacionamentos significativos estremeceram também. A partir do meu lugar pude observar que muitas pessoas que diziam que me amavam e respeitavam estavam, na realidade, demasiado ocupadas com aquilo que projectam em relação a mim e para mim. Por terem sido desafiadas a ocuparem os seus lugares, ficaram perdidas pois na sua caminhada almejavam ser aquilo que não eram.

Relacionamentos ruíram mas muitas outras coisas ficaram no seu lugar. A verdade das intenções (minhas e dos outros) ficaram claras e translúcidas. Fiquei mais segura do meu lugar mas ao mesmo tempo tive a bênção e a oportunidade de curar de forma mais profunda aquilo que considerava ser o amor, o respeito, o orgulho, a dádiva, as expectativas e o medo da solidão. Passou a ser uma conversa ainda mais íntima entre mim, o meu coração:útero e o Grande Espírito. Tive de calar todas as vozes que me julgaram, condenaram, teceram considerações e julgamentos. Fui confrontada com a minha arrogância, mas também pude encontrar certezas. E devolvi a cada um dos actores o espelho das suas acções.

Foi um processo de muitos meses… 15 meses, na realidade, e que ainda continua, pois a minha Alma é sábia e prossegue nos testes para aferir na firmeza dos passos que tenho dado. E durante este tempo, tenho ficado com aquilo que me pertence e devolvo aquilo que não me pertence. Pois ao ocupar o meu lugar, ao honrar o meu caminho, fico-me apenas com aquilo que é meu. O que é dos outros, devolvo à fonte para que cada um se ocupe do que é seu. E hoje ocupo o meu lugar cada vez mais segura do que me sustenta – o alinhamento da minha autoridade interna. Contudo, também sei que aquilo que sou não é consensual nem popular. Mas é meu. Sou assim. E não posso não ser isto para que os outros me amem, me aceitem ou compreendam. Não posso viver em função dos outros pois os outros nunca irão ficar satisfeitos com aquilo que eu sou…

E o que sou? Boa pergunta… Sou intensa, silenciosa, caminhante, carrego um coração sensível que guardo num sítio especial e que manifesto apenas quando sinto segurança. Sou perita em caminhar nas sombras para entender a luz, pois é nas grutas escuras que encontro as pepitas de ouro do meu ser. E por ser perita em caminhar nas minhas sombras, isso dá-me estrutura para despir e desmascarar as sombras dos outros. E só o faço quando me dão autorização para tal, pois não me move o chamado sádico de o fazer por desporto. Dado que sou terapeuta e professora, exerço este meu dom com quem me procura (e até me paga para isso!) – acedo aos meandros da mente que mente, do coração ferido e das motivações sombrias do ser para então fazer caminho para que essas partes sejam apresentadas à parte luminosa de cada um. Não é uma tarefa fácil, pois o ser humano ainda se recusa em assumir as partes impopulares de si próprio e prefere acusar o outro daquilo que não quer ser.

Vivemos na sociedade das aparências e das ilusões. Somos o que achamos que somos mas temos dificuldade em ir ao âmago do que verdadeiramente somos. Aliás, somos isto há milhares de anos e há dezenas de vida. Vivemos vidas em função do que os outros acham, pensam e dizem sobre nós. Passamos os dias a considerar que o que o vizinho comenta sobre a vida dos outros é importante para reger a nossa conduta. Mas sabiamente os portugueses têm um ditado que diz que “nas costas do meu vizinho, vejo as minhas!”… Contudo, usamos este dizer para repressão e não para libertação. Mais ainda, às vezes assumimos também o papel do vizinho e apontamos o dedo, tecemos considerações e achamo-nos os senhores da verdade. É tão mais fácil ser o juiz em vez de ser o réu. Ou de nos colocarmos no lugar do réu.

Numa altura de redes sociais tão imediatas, é comum ver partilhas cheias de certezas absolutas quanto à conduta dos outros. A competição deixa de estar latente e passa a ser ostensiva e mordaz. Como hienas, os juízes dos bons costumes e das certezas absolutas sentam os rabos na sua cadeira, escondidos atrás de um computador e destilam todo o seu ódio e incapacidade de assumir as rédeas das suas vidas projectando no outro. A frustração é, na realidade, o grande motor. E essa frustração esconde uma profunda ferida de amor… de não serem amados… dos outros desistirem de ter a sua atenção e a escolherem não ter a sua companhia. Então vem o despeito, o rancor, a tristeza e tudo isso é enviado e projectado para um alvo, criando uma egrégore de má energia… aliás, atrevo-me a dizer que se torna magia negra que deverá ser trabalhada com as ferramentas certas.

Por isso é essencial que cada um se ocupe do seu caminho. E que cada um se torne verdadeiramente e efectivamente responsável pela sua vida, pelo que diz, faz, emana e pensa. Eu já deixei de ser o bode expiatório para as amarguras dos outros. Não admito mais isso, dado que eu não deposito nos demais as minhas amarguras. É mais fácil dizer que fazer, contudo é um caminho e é possível. Não aceito que os outros me julguem, mas também não espero a unanimidade. Cada vez mais, caminho nas relações de amor, doçura, respeito e transparência. A vida é tão sábia que o que não se enquadra nesta escolha pessoal de ocupar o meu lugar está a ser retirado com fortes aprendizagens de desapego mas também de maturidade e crescimento.

Tal como eu não posso assumir que posso julgar o trabalho e conduta dos outros (apenas posso falar com experiência), também não posso admitir que façam o mesmo comigo. E mesmo assim, cada experiência é sempre muito pessoal baseada nas crenças, feridas, expectativas e abordagens de cada um. A visão do mundo e do outro é sempre pessoal e isso não molda nem o mundo nem o outro.

Sigo então neste caminho. Caminho Alta e comigo mesmo. Pois rege-me a integridade do meu ser antigo e ancestral e a dignidade de ser quem sou. É o mínimo que peço e faço por mim, pois sou a pessoa mais importante do meu mundo e é para isso que a minha Alma escolheu uma vez mais descer a este Planeta Glorioso de abundância e aprendizagem.

Isabel Maria Angélica, 1 de Novembro de 2016

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